Nossa Liverpool

Há poucos dias, os aficionados por música, especialmente aqueles que, na década de 1960, vibravam e empolgavam-se com a “eterna” música dos Beatles – que desembocou na criação da Jovem Guarda nacional – receberam a notícia da morte daquele que foi considerado o quinto Beatle, George Martin, produtor musical da famosa banda.

Confesso-lhes que, ouvindo e vendo um programa televisivo recordando aqueles tempos, emocionei-me com os saudosos momentos que a música nos proporciona, conduzindo-nos a momentos, lugares e pessoas que insistem em repousar em nossas mentes.

Mas vocês, caros leitores, certamente perguntará: o que nossa terra e os seus saudosistas têm a ver com isso?!… E eu lhes respondo: é que, numa de suas mais interessantes entrevistas, George Martin falou do sentimento de nostalgia que dominava a dupla, Paul McCartney e John Lennon, quando compunha os seus sucessos, relembrando os dias de sua infância/juventude na portuária cidadezinha do interior da Inglaterra, a sua amada Liverpool.

Basta que se ouçam algumas de suas músicas e se compreenda o sentimento de rememoração que aparece impregnado na bela Strawberry Fields Forever, um hino de recordações ao lugar que John visitava na infância e que ele considerava, de alguma forma, diferente dos demais, onde ele via e sentia coisas que os outros não viam e nem sentiam; já em Penny Lane, Paul passeia por uma ruazinha de um bairro em que brincava e que a eternizou para o mundo, tornando-a uma das ruas mais visitadas e celebradas da Inglaterra nos acordes de sua música; Eleanor Rigby, em que os dois mergulham na vida passada da personagem e que surgiu quando Paul viu uma lápide com o nome de Eleonor, alguém praticamente anônima, mas que hoje é um dos monumentos mais visitados em sua cidade natal. (Se possível lhes for, ouçam pelo menos estas três músicas e vocês entenderão o porquê de minhas citações).

É que queremos lhes falar de fatos e lugares que povoam o nosso passado e que nos trazem uma indizível sensação de nostalgia. Assim é que nos vem à memória o bairro antigo de Santa Cecília, com a sua singela capelinha de cuja calçada avistávamos a Usina e o cemitério homônimos; o campo de “pelada” (futebol de poeira) que ficava fronteiriço à Estação Ferroviária; o caminho das Capoeiras, por onde íamos ver o teco-teco de Antônio Tomaz; os desfiles da Banda “Cabaçal” pelas ruas do Santo Antônio; as retretas da Filarmônica Santa Cecília, no coreto da Matriz; os banhos nas manhãs dominicais do Açude Quebrado; as caçadas de passarinhos nas encostas do Cristo Rei; nos finais de tarde, o passeio, que ia dos fundos do Colégio Diocesano às proximidades do Clube 1º de Maio, caminhando por toda a extensão do balde do Açude Grande, sentindo, nas proximidades, o cheiro da fábrica de vinagre e vinho de Zé Pires e contemplando, lá pras bandas do Ceará, o belíssimo pôr-do-sol refletido nas águas limpas do açude; os “assustados” nas noites dos sábados, nos mais inesperados lugares, mas que sempre eram “descobertos” pelos tradicionais “penetras” de carteirinha: Walter Cartaxo (Boca de Véia), John Ericson (De Jones), Carlos Roberto (Luluzinha), Antônio Pereira (Toinho Bufão), José Dantas (Dedé Bundão), os irmãos Nobertson (Cara de …), Neuribertson (Nêgo), Ferreirinha, Carlos Roberto (Senegal), Marcelo Xavier, João Batista Rolim (Vaqueiro), Wtemberg Dantas (Bebéu), Vilzimar Rolim (Lobisomem), Juarez Moreira, Jairo Palmeira, Janduí Bezerra, Eudes de Assis (Mosquito), Cesário, João Bosco (João de Beri),  Paulo Roberto (Jiquiri), Paulo Antônio, Roberto Simões (Robertão), Adalmir Coelho, José Martos Xavier, Francinaldo,  Jarbas Moreira, José Lineto (Fuba), José Paiva (Mazinho), Bartolomeu Palmeira (Bartô), Ronaldo Lavor (Buru), João Marcílio,  Ubirajara Formiga (U)Bira), Daladier Feitosa, José Miguel (Júnior), José Marcos Feitosa (Marcos Danada), alguns desses já “no andar de cima”, como eles diziam, e muitos e muitos outros, cujos nomes ou alcunhas já me não vêm à mente…

Era tudo assim… Se conseguimos mexer com o seu saudosismo, isto se não constitui um problema, pois esta era mesmo a  nossa intenção e o objetivo deste Portal da Memória.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Publicações relacionadas
Total
0
Share