Ela (parte 2)

Chegava a van escolar no finalzinho da tarde e ela já descia correndo, cabelos ao vento, jogando a mochila no chão da garagem como se fosse uma menina maluquinha, e eu, automaticamente, a colocava no carro e íamos ao parquinho para ela se deleitar nos aparelhos, dar cambalhotas, escorregar, subir/descer escada e se lambuzar na terra construindo castelos de areia para sua vida.

Ao dormir, líamos livros infantis para acalentar seus sonhos, e eu, como um dublador, empostava a voz em timbre de palhaço de acordo com as personagens da estória narrada, o que, muitas vezes, deixava-a mais acordada e ria como se estivesse no picadeiro de um circo.

Para construir o hábito da leitura líamos em conjunto, ou seja, uma página ela lia, outra a mãe, outra eu, na rede, no sofá, ou em qualquer momento de descontração cotidiano caseiro. Tornou-se leitora voraz ainda mais pelo sistema de leitura que adotei, talvez questionado pela pedagogia moderna: pagava-lhe por página lida de livro, no primeiro e segundo grau. Para nós deu certíssimo. Hoje adora ler livros sem mais precisar receber dinheiro.

Incutimos a prática de escrever seu diariozinho. Mas o que eu escrevo, pai? Ah, minha filha, escreva sobre o que você sonhou ontem. Hoje eu não sei o que vou escrever, mãe! Ah, minha filha, escreva sobre o que aconteceu na sua escola com seus amiguinhos.

Ensinei a andar de bicicleta, com tombos e medos de desabar ladeira abaixo, mas seus ouvidos ecoavam minha voz de “olha a árvore, mais à direita, mais à esquerda, olha pra frente, mais devagar, aperta o freio…! ”. Tinha certeza que estava aprendendo a se equilibrar para a vida.

Ir ao teatro infantil, exposições de artes, ao cinema e ao zoológico dar pipocas aos macacos era um roteiro clássico para contemplação do arcabouço cultural.

Imaginávamos. Como diz a música Construção, de Chico Buarque, “tijolo com tijolo num desenho mágico, Tijolo com tijolo num desenho lógico”, com as inserções práticas de nosso dia-a-dia deu-se sua construção de infância, adolescência e, agora, já bem adulta, se preparando para botar a mão na massa para erguer no patamar quatro paredes sólidas que a vida lhe exige.

Parabéns por seu aniversário hoje, 12.9.20, filhinha. Sua mãe Maurinete, eu, pai, familiares e todos seus milhões de amigos e amigas que te cercam, dedicamos mil beijos e abraços.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Publicações relacionadas
CLIQUE E LEIA

Tigé

Quando eu perambulava pelos corredores e pátios da Escola Cristiano Cartaxo, o Polivalente, já ouvia falar muito bem…
Total
0
Share