As chuvas começam a banhar os sertões

“Súplica Cearense” é uma composição de Gordurinha e Nelinho. A música ficou eternizada na voz de Luiz Gonzaga e foi gravada por Elba Ramalho, Wagner, Vanusa, Carmélia Alves entre tantos outros. Esta belíssima canção é uma oração que retrata o sofrimento causado pela seca e que fez muito sucesso na década de 60.

Seus versos: “Ó Deus, perdoe esse pobre coitado/ Que de joelhos rezou um bocado/ Pedindo pra chuva cair sem parar. Ó Deus, será que o senhor se zangou/ E só por isso o sol se arretirou/ Fazendo cair toda a chuva que há. Senhor, eu pedi para o sol/ Se esconder um tiquinho/ Pedi pra chover/ Mas chover de mansinho/ Pra ver se nascia/ Uma planta no chão”, espelham muitos momentos vividos pelo sertanejo nordestino. O homem do campo, depois de nove anos de seca, em 2020, começou a vê seus açudes tomarem água e seus campos cobertos do verde, cor da esperança.

As chuvas neste ano de 2021 começam a varrer as terras do sertão, em algumas áreas já ocupam grotas e várzeas. Noutras até os tabuleiros estão atolando. O trovão ronca no espaço e rompe o silêncio da noite iluminada pelo brilho do relâmpago, mostrando as nuvens carregadas de chuvas e acompanhadas de muitos ventos que arrancam as sucupiras e as imburanas.

Nas bacias de alguns açudes já se pensa em plantar as vazantes, principalmente de batatas e jerimuns e nas partes mais altas o gergelim. As águas novas já vomitaram e deram vida aos leitos dos rios secos e a Acauã, que vivia cantando, durante o tempo do verão, “no silêncio das tardes agourando, chamando a seca pro sertão”, do alto da aroeira, silenciosa, se protege das chuvas e dos ventos e ouve a alegria do inverno com o canto do sapo, da jia, da rã, da peitica e do bacurau que anunciam mais chuvas no sertão.

O pasto já começa a crescer no campo, as árvores se enfeitam, o gado fica com o pelo brilhando, os bodes ficam berrando e a cachorra baleia, de rabo cotó, latindo no terreiro de casa, acompanhada pelo canto das guinés e o cocoricar das galinhas. Estas imagens tornam o sertanejo muito feliz e alegre e o faz também cantarolar a música de Luiz Gonzaga: “Ai, São João/ São João do Carneirinho/ Você é tão bonzinho/ Fale com São José/ Fale com São José/ Peça pra`le me ajudar/ Peça pro meu mio dar/ Vinte espigas em cada pé”.

A chuva representa para o sertanejo o maior e mais belo espetáculo da natureza. O sertão de amargo e esturricado, com as chuvas, passa a ser doce e florido, a noite escura se enfeita com vaga-lumes, as manhãs são rompidas pelo canto dos pássaros, pelo relinchar do jumento, pelo cantar do sapo anunciando a desova, pelos gaviões rompendo o céu atrás da juriti.

Já imaginou se o nosso sertão fosse sempre assim, com chuvas regulares, sem a seca braba que afugenta os seus filhos para rincões distantes, causando saudade, dor e sofrimento, a exemplo do que canta Luiz Gonzaga em Asa Branca?

Esperamos que este ano tenhamos um bom inverno.

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