Sinceramente, nunca pensei que alguém pudesse criar um “chat” na internet para conversar consigo mesmo. Pois bem, fiquei boquiaberto ao tomar conhecimento de que o ex-chefe da força tarefa da Lava Jato em Curitiba, o procurador Deltan Dallagnol fez isso. É inimaginável que alguém, com saúde mental, consiga manter um bate papo na internet consigo mesmo. O delírio do narcisismo. Auto elogios, reverências a si próprio, exaltação das qualidades que admite ter. Não pode ser considerado como algo natural tal comportamento.
Nem estou entrando no mérito do conteúdo das conversas mantidas nesses monólogos (diálogos?). Estou só analisando o aspecto psicológico da atitude. Impressiona observar como ele é fascinado por si mesmo. E como se projeta como uma pessoa que se coloca acima dos seres humanos normais. Ele se acha um “fora de série”. Julga-se uma personalidade sedutora. Praticante do marketing pessoal ao fazer propaganda de suas virtudes. Nenhum palpite vale tanto quanto as suas idéias e opiniões. Não tem vergonha de se aproveitar da boa fé dos fracos e incultos, nem tem compromisso com a verdade.
Não estou falando daqueles momentos em que necessitamos fazer exames de consciência e nos recolhemos à solidão para fazermos autoavaliações ou nos questionarmos quanto a procedimentos que repercutem na nossa vida e na de outros. Essa é uma postura que faz bem. Momentos de reflexão, instantes de revisão íntima de comportamento. O que me surpreende é registrar isso num “chat” da internet, trocando informações e consultas, como se estivesse conversando com alguém. E mais, assumindo uma posição de alter ego, o “outro eu”, o alternativo. Mas ambos sempre reconhecendo que o Deltan verdadeiro é um sujeito que está preparado para exercer bem qualquer missão que lhe for confiada. O Deltan físico e o imaginário com quem dialoga, têm convicção de que são adorados pelo povo e, por isso mesmo, qualquer deslize será sempre perdoado.
Nos seus devaneios transita entre o desejo de continuar sendo o procurador da república que vai salvar o Brasil da corrupção (???), o exercício do mandato de senador da república, ou o herói que merece ser homenageado com um monumento . O palestrante que vai ganhar muito dinheiro em qualquer dessas situações, ele não tem dúvidas que continuará sendo. Mas admitiu numa recente entrevista que em conversas íntimas a pessoa pode se dar ao luxo de ser um tanto irresponsável.
Os narcisistas têm um transtorno de personalidade em que conseguem potencializar a auto-importância. Procuram a todo custo mostrar uma superioridade irreal sobre os demais. Traços psicológicos que nunca admitem percebê-los. Egocêntricos por natureza. Esquecem, no entanto, que as máscaras caem um dia e passam a sofrer a ressaca da embriaguez do poder e da soberba. “Quem muito quer, termina perdendo tudo”, nos ensina a sabedoria popular.
