A baixaria além dos limites

Lembro que quando criança, acompanhando meu pai num evento político, fiquei surpreso e mal impressionado ao ver um governador proferir um palavrão. E não era uma solenidade oficial, estávamos num aeroporto esperando a chegada daquela autoridade. A manifestação me pareceu imprópria para alguém a quem devemos respeitar pelo cargo que exerce e de quem esperamos uma postura exemplar, condizente com o eventual poder que lhe é conferido.

Alguém pode dizer que estou sendo exageradamente puritano. Que todos nós temos momentos em que fica difícil não soltar um palavrão. Porém, continuo achando que tais baixarias não se ajustam a determinados ambientes, porque comprometem o aspecto de seriedade a que se obriga respeitar. Vulgarizar solenidades oficiais presididas por personalidades públicas é tornar a linguagem primária e grosseira um comportamento que se revela incivilidade e péssima referência para a coletividade.

O que se faz na privacidade não é permitido que se faça publicamente, muito mais quando se trata de uma autoridade. O recato é exigência imprescindível na postura dos que estejam no exercício de cargos públicos.  A eles é inadmissível que fiquem liberados dos instintos elementares, proferindo impropérios, sem a capacidade de medir os limites da moralidade e do respeito às ocasiões cerimoniais. 

O que dizer, então, de uma reunião ministerial, realizada na sede oficial do governo, presidida pelo presidente da república, se transformando num festival de baixarias? Estamos, lamentavelmente, nos acostumando a ver o chefe da nação normalizar os discursos de baixo nível, seja qual for o público a que esteja se dirigindo. No mínimo uma falta de educação cívica. Desconhece a necessidade de resguardar o senso de decência do Estado. Um ataque às consciências que lutam por uma sociedade civilizada, tolerante e democrática. 

Seus pronunciamentos não trazem considerações que interessem ao povo que governa. A marca dos seus discursos é uma acentuada proliferação de xingamentos, ofensas pessoais e palavrões, inteiramente incompatíveis com o cargo que exerce. Será que ele se pronuncia da mesma forma quando está numa igreja? 

Sabemos que a polidez nunca foi algo considerado na política. Porém, nos anos recentes, isso tem passado dos limites. O poder de influência de uma autoridade governamental, pode fazer com que a descompostura passe a ser observada como atitude normal entre as pessoas no cotidiano. Basta ver como se estabelecem os debates nas redes sociais, prevalecendo os ataques à honra, as difamações, as grosserias.

Ao aplaudirmos tantas impropriedades ditas e perpetradas, estaremos  colocando lenha na fogueira da guerra das baixarias.  

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