JK barrado no Carnaval do Cabo Branco

Logo após o carnaval de 1972, não se comentava outra coisa na cidade senão a proibição do ex-presidente Juscelino Kubitschek comparecer ao baile de abertura dos festejos momescos do Clube Cabo Branco. JK teria sido convidado pelo então presidente daquele sodalício, Haroldo Lucena, irmão de Humberto Lucena, um dos responsáveis pelo apoio logístico à comitiva, na oferta de carros para locomoção e definição da agenda em nossa Capital, ao lado do empresário Raimundo Lyra. Conta o historiador José Joffily que, menos de vinte e quatro horas depois, Juscelino foi comunicado de que Haroldo teria recebido um telefonema do General comandante do Grupamento de Engenharia orientando-o a desfazer o convite. Cumprindo a máxima popular que diz: “Manda quem pode, obedece quem tem juízo”, Haroldo Lucena se viu obrigado a executar a deselegante missão que lhe fora exigida.

O ex-presidente teria decidido vir à Paraíba acompanhado de sua esposa e amigos, entre os quais Adolfo Bloch (presidente do Grupo Manchete), Walter Moreira Sales, Fernando Cunha Lima (irmão de Ronaldo e tio do do ex-governador Cássio Cunha Lima), e o cantor Dilermando Reis, hospedando-se no hotel recém inaugurado na praia de Tambaú

Ao tomar conhecimento da descortesia, a que estaria sendo submetido JK, o gerente do hotel Tambaú resolveu improvisar uma noite carnavalesca na boate, que ainda não estava aberta ao público. Ao que se sabe, não foi uma boa ideia, pois o grupo “Os troços na troça”, contratado para animar a festinha, se apresentou com alto teor etílico na cabeça e foi um desastre na execução das músicas.

A competência de pesquisador do historiador Waldir Porfírio, descobriu no Arquivo Nacional, relatório do SNI – Serviço Nacional de Inteligência, documento dando conta de que todos os passos de Juscelino e sua comitiva foram monitorados pela ditadura militar.

Durante seu período de estadia em nossa capital, segundo o relatório da “Operação Juvenal” do SNI, o ex-presidente e sua comitiva estiveram na casa de Raimundo Onofre, almoçaram no Badionaldo e tomaram banho de mar na praia do Poço. Tudo, claro, sob os olhares, à distância, do pessoal do Serviço Nacional de Inteligência.

O assunto não foi registrado, obviamente, por nenhum veículo de comunicação do estado. No entanto, ganhou ampla repercussão na população, por se tratar de uma personalidade de prestígio nacional. Com a abertura dos arquivos da ditadura militar, foi confirmado o episódio, lamentavelmente.

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