COISAS DE CAJAZEIRAS

Das maldições – familiares e comunitárias

A família de minha mãe eram os Matos Rolim, que até a morte do Coronel, disputava a liderança de nossa comunidade, tendo sido inclusive o primeiro prefeito eleito de cajazeiras, lá pela década de 30. Depois, a família caiu numa impressionante espiral descendente, e quase todos, pelos mais diversos motivos, emigraram (como a grande maioria das nossas famílias tradicionais). Quando nos encontrávamos no Rio de janeiro, ou em Goiânia, durante as reuniões familiares, alguns parentes perguntavam se poderia existir alguma maldição pairando sobre nossa família, que não mais conseguia a pujança e o destaque de outrora.

Corte: Esse tipo de reclamação também acontece em outras famílias tradicionais  de nossa terra e de outras, e deve se relacionar com o sobe-e-desce do setor agropecuário, que atravessavam crises relacionadas a secas e oscilações nos mercados: Por exemplo, o outrora Rei Algodão, sempre foi muito suscetível a essas oscilações, pois quando se tem aperto, uma das primeiras coisas que se deixa de comprar é roupa, e quando de uma seca, o “legume” escasseava, especialmente com os primitivos métodos de cultivo que se adota aqui, e toda sorte de fatores influenciam esses altos e baixos.

Mas voltando ao assunto deste texto, é normal se procurar causas sobrenaturais para explicar ou atravessar essas crises, ninguém procura o rezador se a cobra não tiver matando o gado…

Minha amiga e irmã por afeição Lucia Rolim, publicou um livro bastante interessante que coloca a família Albuquerque entre os descendentes de Catarina de Médici, que foi Rainha da França no século XVI, e se for correta esta assertiva, a gente pode relacionar a famosa Noite de São Bartolomeu, em que a regente mandou eliminar fisicamente os protestantes da frança, com muitas dezenas de milhares de mortes, somente nessa noite, sobrando uma mega-maldição que atravessaria os séculos, pois Jerônimo de Albuquerque é considerado o Adão pernambucano, com sua vastíssima descendência, entre elas quase todos nós, e seriamos os descendentes dos responsáveis (entre outras coisas), pelo maior massacre por motivo religioso, somente superado pelo  realizado pelo nazismo.

Mas já é digressão demais, vamos ao que me motivou a escrever esse texto: No tempo em que Cel Matos era prefeito, alem de diversas obras (o Açougue Central é uma delas), ele erigiu a Praça Coração de Jesus, onde outrora se situava o cemitério, e, tendo ficado uma capelinha consagrada adoração de Jesus, ele demoliu e quando foi perguntado para que, respondeu que era para uma Praça de carros, então (dizem) que o vigário disse que ele os carros fariam mal a ele e a família. Depois em 1940, o Cel. Matos morreu atropelado, meu avô Adriano Brocos morreu de um acidente de caminhão; minha mãe também foi vítima de acidente, e até Celsinho Matos também (foi atropelado por deu trator).

Do lado dos Pires, tem a história da cigana que achou Tizinha (Maria Antonieta Pires – minha tia), bonita e pediu a menina p’ra criar”. Diante da óbvia negativa de minha avó paterna, D. Crisantina, ela teria dito: ”Pois Você vai criar uma aleijada” e de fato, um reumatismo precoce limitou Tizinha durante toda a vida…

Mas nem tudo isso pode ser considerado uma coisa exata, pois por exemplo, D Ceci, minha avó materna morreu de AVC em Goiânia, D. Adalgisa, igualmente filha do Cel. Matos morreu de velha (103 anos), e quase todo o restante da família morreu “na cama” como dizem, coincidências acontecem, apenas a gente tenta justificar as fatalidades; Na família do meu pai, o reumatismo é uma doença comum a muitos parentes e por aí vai…

Mas, isso não é ainda o centro do motivo dessas linhas; Minha teoria da conspiração universal indica que todos nós cajazeirenses podemos estar sujeitos a uma situação dessas, exclusiva por conta de nossa omissão.

Nossa cidade era, há dois séculos atrás, apenas um dos muitos pousos de tropeiros que faziam a rota do Cariri, era o “Sitio das Cajazeiras”, havia o Cipó, Catingueira, e outros. Quem transformou esse sitio remoto na “Terra que ensinou a Paraíba a ler”, foi o vulto mais destacado de toda nossa região, o Padre Rolim, que nos criou, e seus descendentes (todos os que aqui habitam descendem de sua obra pioneira), deixamos nosso patriarca ao quase absoluto abandono, sem sequer sabemos onde foi enterrado, nem temos um lugar para venerá-lo, como ele merece. Nesse fato, de per si, pode estar a origem dessa situação onde tudo nos é tomado com uma facilidade impressionante, limitando nosso progresso.  Como já disse, no inicio do século XIX, o que hoje é a cidade de Cajazeiras, era apenas mais um local de pousada para tropeiros e animais que faziam o minguado comércio da época, a saber, basicamente levavam o sal e outras mercadorias vindas de Mossoró, e voltavam com a rapadura do Cariri cearense. Nem era a maior pousada, nem era a única, nem a maior, apenas mais uma dessas…

Mas o que tornou esse local remoto e semelhante a outros na “Terra que Ensinou a Paraíba a Ler”, e no maior centro urbano regional na virada para século XX?

Apenas e tão somente a obra educadora e evangelizadora de um de seus filhos, o Padre Mestre Ignacio de Sousa Rolim, que apesar de ser reconhecido como professor em Pernambuco, onde se ordenou, e na nossa Capital, onde foi convidado a residir, fez a opção de levar adiante a missão de ensinar aos seus conterrâneos, no local onde nasceu. O restante é História, a escolinha da Serraria, e o posterior Colégio que se tornou centro de referência em todo o Sertão, educando e formando entre seus alunos cidadãos que se tornaram posteriormente grandes vultos e levaram a fama de nossa cidade Brasil afora.

E não foi pouco: Até o gol de placa dos nossos hermanos argentinos, que tem a glória de um concidadão eleito o primeiro papa latino-americano, nós tínhamos a honra de que o primeiro cardeal da América Latina que foi Dom Joaquim Arcoverde, ser egresso de nosso humilde colégio, e aluno do Padre Mestre. Feito histórico, somente superado ano passado…

Isso, e também a maior figura religiosa do Nordeste, Padre Cícero, teve formação semelhante e os dois (ele e o futuro Cardeal) foram colegas aqui em Cajazeiras, Isso somente para fazer uma pequena ilustração da grandeza de seu trabalho tanto na orientação pedagógica quanto na religiosa, muitos, tanto para aprender, como ensinar, vieram para cá e formaram nossa cidade, à sobra do inigualável saber e exemplo de vida de nosso patriarca.

Quando da proclamação da República, foi formada uma Assembléia Nacional Constituinte, e um de seus membros era Joaquim Antônio do Couto Cartaxo, outro ilustre conterrâneo, que mais uma vez o país requisitava e atestava o mérito de nossa cidade para contribuir na construção da república que nascia.  Assim, essa pequena povoação transformou-se no maior centro educacional e comercial dessa região, que atraia muita gente, que queria participar desse lugar onde se sabia encontrar saber e cultura, e vinham até da capital do estado, como é o caso do famoso Irineu Joffili, entre outros cujos pais os faziam estudar nas lonjuras do sertão. Sem a obra do Padre Mestre, certamente nada disso teria acontecido, e como reflexo da pujança de nossa cidade, ela foi escolhida para sede de diocese há cem anos.

Corte: hoje, apesar de sermos reconhecidos como centro pedagógico regional, existe uma enorme facilidade de se tomar obras, e benefícios de Cajazeiras, há pouco tempo, nossa cidade era conhecida como “A terra do já teve”, de tanto que nos foi tomado, iniciou com o desvio da RVC (Rede Viação Cearense), a ferrovia que passa em Sousa e em São João do Rio do Peixe, e depois, inumeráveis obras e benefícios, que eram para vir para cá nos foram tomados, e com relativa facilidade. Depois, apareciam misteriosamente em Sousa ou Patos, os maiores beneficiados, tendo como exemplos muito recentes, recentes, instalação da segunda Vara federal para Sousa, e a implantação na Cidade Sorriso da sétima Vara estadual, enquanto nem a Quinta Vara Estadual consegue aqui ser instalada.  Eu tenho um sentimento de que pode existir pelo menos uma causa imaterial, Na minha Teoria da Conspiração, entre os fatores que influenciam negativamente para Cajazeiras, figura a forma desrespeitosa com que a gente trata nosso fundador e patriarca, o Padre Rolim, que apesar de ser decantado em prosa e verso, ninguém sequer tenta descobrir onde ele está enterrado.

Decerto que o próprio Padre não iria estar de seu descanso eterno, atrapalhando sua terra-obra, mas, Apenas para dar um exemplo, existe na cidade de Patos, toda uma estrutura, um monumento religioso dedicado a Santa Francisca, a menina da “Cruz da Menina”, com uma estrutura impressionante para homenagear a menina assassinada, um evento digno de todo nosso respeito, assim como o “Milagre Eucarístico”, acontecido em Sousa, onde se vê uma grande e bonita praça em que se alude a este evento, mas em se considerar as proporções, nada disso se pode comparar com a grandeza e a profundidade da obra de nosso Padre Rolim, no meu ver quase completamente desprezado por nós, e como dizia minha mãe: “Se você não der valor aos seus, quem o dará??”.

O Monumento que ostenta seu busto está assentado sobre, como diz a inscrição que fica na base do monumento, ”As venerandas cinzas de Mãe Aninha”, ou seja: para dizer o mínimo, a homenagem está incompleta, talvez por isso, entre outras coisas, inclusive o fato de que aqui cada um cuida mais de si, nossa cidade tem ficado, de certa forma à margem do progresso experimentado por outras cidades irmãs.  O que apresento, pode até influenciar pessoas que queiram se estabelecer aqui: Se tratam o fundador da cidade dessa maneira, como irão me tratar?

Já passa da hora de prestarmos as homenagens devidas ao nosso Padre Mestre, para que o mesmo possa iluminar e abençoar mais sua cidade-obra. É minha sincera opinião.

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