Cavalgadas e tradições

De repente, de várias bocas de corredor, de inúmeras veredas e caminhos diversos os tropéis antecipam a chegada de cavalos e cavaleiros. As indumentárias de homens e animais revelam procedências sociais e formas de expressão da fé.

Animais, predominantemente cavalos bem torneados e lustrosos, ensaiam passos aristocráticos. Arreios e selas mais bem elaborados, com penduricalhos e bom estágio de manutenção e conservação são sinais de identidade social. Botas lustradas, cinturões ostensivos, esporas afiadas e trajes de bom corte são indícios de quem vem para a cavalgada muito mais por um ritual social.

Outros, na magnitude de sua simplicidade, ostentam montarias mais rudes e mais acanhadas. Normalmente, burros e muares roubados da lida diária de tração de carroças e arados. Selas rotas, arreios surrados, botinas apagadas pelo uso continuo na lida diária entre caatingas e estrumes de currais e baias. Em seus chapéus de couro ou palha a reverência de que a cavalgada é mais uma forma de agradecimento e de tributo.

O murmurinho de vozes e relinchos aumenta a medida que o dia avança, o calor empapa rostos e roupas e a ansiedade da caminhada cresce a expectativa da festa. Os rituais religiosos são iniciados com a benção de cavaleiros e montaria na praça principal da cidade sob a sombra da igreja matriz.

O percurso longo por enlameadas estradas de terra que serpenteiam riachos e serras vai atraindo a atenção de todos que acorrem para a assistência. Alguns, mais exaltados, experimentam uns tragos de aguardente. Animais mais afoitos ensaiam disparadas contidas pela força das bridas. Ao longo, após algumas horas de cavalgada, se vislumbra, entre os recônditos de serras e grotões, os campanários e torres do templo dedicado ao padroeiro dos nordestinos e de sua permanente esperança de chuvas abundantes e invernos fartos. De maneira contrita muitos ainda revelam disposição para os rituais religiosos da missa celebrada para festejar o santo. Outros procuram abrigo para si e para animais cuja malha de suor a cobrir os corpos evidencia a exaustão da cavalgada.

Iniciada há poucos anos, como uma iniciativa de poucos, ganha dimensão coletiva a cada ano e recebe o tratamento de evento inserido no calendário estadual como um dos atrativos turísticos. Embora já venha sendo explorada como espaço de promoção política, sobretudo por lideranças políticas que se interessam mais pela vitrine e menos pelo saldo positivo que pode representar para a população e para o município, a cavalgada carece de um tratamento mais sério e conseqüente para que a motivação de fé seja também uma forma de agregação de dividendos econômicos para o município.

É preciso que o percurso da caminhada seja explorado enquanto fonte de turismo. É importante que as administrações públicas, sobretudo, do município, sejam inteligentes e institucionalizem uma estrutura concreta de apoio a cavaleiros e crentes que, por outros caminhos, também convergem para o santuário de Marimbas para a culminância da cavalgada.

E assim, nasce a tradição.

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