No país das cajaranas e das serpentinas, tudo reinava linda e coloridamente. O Trio Elétrico Maravilha… ah, que maravilha! Meus olhinhos de menina sonhadora faiscavam. Sou da época das interrogações na bochecha e de um Castelo ainda mitificado pela imprensa.
Minha inocência não permitia compreender a divisão social nos clubes. Era quase um paradoxo: os muros de pessoas se reconstruíam numa época de junção musical (?) Primeiro de Maio de um lado, Cajazeiras Tênis Clube do outro e, nas quinas da divisória, a rua, o céu e as noites com seus boêmios carnavalizados.
Vim descobrir o carnaval-céu-aberto na idade apropriada para saber que a rua é o palco da salada de gente divertida, o amálgama da vida, a geléia do povo; é onde acontece a verdadeira festa.
Mas, a gigantez do evento trouxe os murros, pontapés e canivetadas da violência. Surgiram, então, gambiarras mais luzidas e olhudos holofotes, sob a batuta de um policiamento reforçado, porém, nunca ideal.
Uma confusão de arremedos políticos e empresariais deixaram uma expectativa silenciosa nos foliões, do tipo “será que este ano tem?”. Mal sabem eles que o povo não tem nada a ver com os conchavos, mas pagou por isso no ano passado, por exemplo, tendo que suportar um caminhão estridente fazendo as vezes de um Trio.
Hoje, o Carnaval de rua relembra um tempo em que os aparatos sonoros não deixavam dormir as boas senhores-de-idade, pois pediam licença por três dias:
– Deixem-nos zoar!
A casa da frevança abrigava seus compartimentos líricos, apenas reinventados. O teto da praça era poetizado com o talento Braz e com carpinteiros e marceneiros de aço. O asfalto recebia os pulos de uma alegria singular e concentrava a região inteira na Avenida Presidente João Pessoa. E paredes jamais existem quando estivermos falando de rua.
A massa – tanto a real quanto a plebéia – quer desfrutar suas horas de plenitude nessa mesma casa, de riso acachaçado, de suor, de namoro debaixo de uma chuvinha tímida – que só aparece na Terça-feira Gorda, rechonchuda de saudade.
Cresci mais um pouco e percebi que, agora, as interrogações estão na cabeça de cada um. Mas já que o negócio é tum dum esquindum dum dum… Vamos ver o que será.