As feiras de antigamente…

Na fase de preparação da nova edição do romance Carcará, do escritor cajazeirense Ivan Bichara, deparei-me com descrições das paisagens urbanas, como se não tratasse de uma obra de ficção, mas como obra de um repórter atual, percorrendo ruas, vielas e calçadas de nossa cidade. São descrições que nos encantam e que nos conduzem àqueles saudosos dias, que nos levam a repetir o óbvio: “Éramos felizes e não sabíamos!” Assim é que, hoje, vou ceder meu espaço ao ilustre escritor e ex-governador e deixá-lo à vontade, para que ele apresente a quem não viveu naquela época os “belos dias” de uma feira em Cajazeiras:

 A FEIRA era uma festa. A cidade se animava: as ruas quietas se povoavam de transeuntes. O sábado era um dia diferente, vivo, cheio de promessas e novidades. O sol, absoluto, criava a agitação geral, iluminando os telhados, as fachadas dos prédios, as calçadas, as ruas, os toldos das barracas, as fisionomias rudes e bronzeadas dos sertanejos.

Saindo de suas tocas, na zona rural, madrugada, bem cedinho, antes de os galos cantarem, convergia para a cidade gente de todos os cantos do município e das localidades vizinhas: moradores, vaqueiros, artesãos pequenos proprietários, dependentes, mulheres, crianças, velhos, todos tocados pela magia de um novo dia.

Os homens, fardos ou sacos nos ombros, ou tangendo animais de carga, vestiam calças de brim duro, alpercatas de rabicho, chapéu de palha e de couro; a camisa de algodãozinho, fora das calças, escondia a faca de ponta ou a peixeira, que tinha muitas serventias; as mulheres, a pé, mesmo quando o chefe de família vinha montado, arrastavam seus longos vestidos de chita; usavam um pano branco ou colorido, que descia da cabeça e lhes cobria o rosto grave; os chinelos de couro estalavam no chão duro; outras, descalças, com os sapatos na mão, o calçavam na entrada da rua. Uns vinham passear, como os meninos e as moças; outros, vender e comprar. Traziam dos sítios: esteiras de carnaúba, rapadura, garrafas de manteiga, queijo, alfenim, farinha, goma…

Havia diversas feiras: a de cereais, que era a mais extensa; a de frutas e legumes; de barro: panelas, quartinhas, potes, jarras, tigelas, vasilhas de todos os tipos e tamanhos: a feira dos “mangaieiros”, com predominância das mulheres, que espalhavam pelo chão os produtos mais variados: colher de pau, abano, cordas, pavio de candeeiro, bolo de milho, pé-de-moleque feito com rapadura preta, doces de corte, tapioca, beiju, chouriço e raízes em profusão, tais como, alecrim, gengibre, pimenta de cheiro e malagueta, jarrinha, umburana de cheiro, jalapa, jurubeba, quebra-pedra, pega-pinto, cabeça-de-negro, garrafadas para dores de mulher e desengano de velho; havia, ainda, num canto da cidade, a feira de animais: reses, cavalos, burros, jumentos, bodes, carneiros, onde apareciam, às vezes, e desapareciam, os ciganos, sem que ninguém soubesse sua procedência e seu destino…

Se o prezado leitor gostou – e, certamente, aqui não cabe a condicional – do texto acima, terá, dentro em breve, a ocasião de ter outras páginas do aludido livro, cuja edição esgotada, muito em breve, espero, estará nas mãos dos que apreciam uma boa leitura. É aguardar pra ver e pra ler!…

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