A nova violência

O grande destaque da nossa imprensa e o assunto mais comentado nas redes sociais e outras é a onda de violência como que desenfreada que se instalou na nossa cidade. Então vamos tecer algumas reminiscências e tentar analisar o porquê dessa situação ter-se instalado em nossa comunidade.

Lá atrás, bem antes de eu ter nascido, havia o fenômeno do cangaço, e o que se formou em consequência da inoperância da justiça de então, quase inexistente, e que, em muitos casos, naqueles tempos do coronelismo, os próprios juízes, transformavam-se em coronéis togados. Um exemplo aqui foi o do Dr. Victor Jurema, que quando um vaqueiro “buliu”, com uma de suas filhas, deixou de lado o mundo do Direito, reuniu a cabroeira, perseguiram o ofensor, acharam-no, lhe castraram, e segundo a tradição oral local, enterraram vivo, num exemplo a maior cena de como se resolviam as coisas naqueles tempos de, vamos dizer, violência rural. Essa conduta, até certo ponto justificada, segundo o que se pensava na época (honra se paga com sangue), era repetida em quase todo o nosso sertão, e esse caso ou semelhante, fez com que os desassistidos por justiça se armassem e formassem bandos que eram funcionavam como defensores e justiceiros e saqueadores de um tempo que se chamou de “carrancismo”, em que se resolviam as coisas’na base do “fuzil de papo amarelo”, que eu conheci e manuseei um de propriedade de um tio, Dr. Severino Cordeiro (linda arma), que ‘com o desmantelamento do bando de lampião, em 1938, e os avanços das leis e do cumprimento sessas, ou seja: do aparato policial, foram ficando em desuso esse tipo de prática, excetuadas as rixas familiares.

Então, Assim por conta da emigração de nossos conterrâneos para o Sul do país, e fatos de alguma forma semelhantes acontecerem por lá, o desemprego, a absorção desses desempregados pelo tráfico de drogas, a obsolência e a indulgência que nosso sistema legal trata os criminosos, com penas breves, e a progressão de regime, além da novidade da Audiência de Custódia, que deveria servir para separar os ruins dos menos ruins, mas o que faz é soltar os piores, os fora da lei de nosso país, vivem assim como nua espécie de relativo paraíso, se comparado a outros sistemas legais vigentes noutros países. Noutras palavras, nosso sistema legal serve na realidade para como que “proteger os piores criminosos”, aí, em grande parte, os direitos humanos, que jamais desconheço seus benefícios, virão “Direito dos Manos”.

Temos o caso famoso do Jornalista Tim Lopes, que apesar da barbárie que este sofreu, bem como todo o movimento envolvendo a Rede Globo, e a sociedade como um todo, o seu perpetrador, o tristemente famoso Elias maluco, já se encontra em liberdade por bom comportamento há mais de uma década. Em dois ou três anos os assassinos mais perversos logo estão de volta às ruas, e com esse pouco tempo que ficam presos, logo voltam a praticar os mesmos atos.  Mas todo esse fenômeno, essa falta de operacionalidade da justiça e de seu “longamanus”, a polícia, na frase de meu amigo Josias Fonseca são muito ineficientes, para combater o Estado Criminoso que vem a se formar nos subterrâneos de nosso Estado de Direito.

Tudo isso e mais se aglutinam para formar um caldo de cultura que realimenta violência agora urbana em que as novas gerações, com famílias cada vez mais desestruturadas, e de um sistema educacional público muito pouco atraente, as novas gerações vão assumindo os valores mais do que questionáveis do mundo paralelo, que um criminoso, por exemplo, tem acesso aos maravilhosos acessórios de luxo do consumismo bombardeado dia e noite pela mídia.

Então, estado frouxo, leis lenientes, famílias desagregadas, escolas pouco atrativas, tudo isso junto e mais, como que empurram os nossos jovens rumo à delinquência, a ponto de eles ostentarem como que uma coisa positiva fosse o fato de “pertencerem”, ao mundo que eles acham excitante do crime, o resultado é o que vemos, um aumento extraordinário da violência, e a inversão de radical de valores, onde se muito já se perdeu e muito ainda vai se perder.

E vejam: isso não é um fato isolado de nossa comunidade. É um processo em que toso o nosso país caminha na direção contraria a de outros até vizinhos como a Colômbia, se todos nós ficarmos fingindo que o problema não é nosso, o país continuará a se enterrar cada vez mais fundo do atoleiro que se encontra. Essa violência que estamos a assistir à nossa porta, vem de longe, e sem um esforço organizado de todos como sociedade, inclusive cada um fazendo a nosso dever de casa, piores dias virão, e o Brasil, ao invés de formar entre os países vitoriosos, como a Coréia do Sul, iremos nos enquadrar junto aos países menos desenvolvidos do mundo como a África Subsaariana, por exemplo.

A violência bate à nossa porta. De omissão em omissão, chegamos a essa situação. Há vinte anos eu comentava uma frase da juíza carioca Denise Frossard, que dizia “Se não modificarmos as formas de combater o estado criminoso que se estava se instalando no Rio de Janeiro, o problema iria se agravar”. Pronto: chegou a Cajazeiras…

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Publicações relacionadas
Total
0
Share