Parque Lima

VALIOMAR ROLIM

A cidade virava uma festa. A mesmice, o marasmo, a inércia perdiam a vez. A população nem lembrava que, passada a temporada do parque, seriam o pano de fundo da cena. Aquela animação acontecia com o circo, as touradas, as festas da padroeira, mas nada como o Parque Lima.

A precariedade das comunicações da época faziam do parque Lima o grande lançador dos sucessos musicais daqueles tempos. Cajazeiras foi apresentada a músicas, artistas e movimentos musicais que marcaram a época, como a jovem guarda, pelo serviço de som do parque. Diziam até que a rádio difusora gravava os sucessos em fita para tocar em seus programas.

Foram os maiores desfiles do “quem me quer” daqueles tempos. Vestiam-se as melhores roupas, até parecia que a semana toda só tinha Domingo. O parque faturava alto até para oferecer as músicas. Ainda hoje se comenta a página musical oferecida a O.X. que seriam as iniciais de Ontonho Xofer.

Naquela temporada o Sr. Antônio Rolim vislumbrou a oportunidade de  desforra com Pensamento, jogador do velho Cajazeiras Atlético Clube, que teria, digamos assim, sacaneado seu filho Guerton numa pelada no velho estádio Higino Pires.

Pensamento estava passeando no parque, disseram-lhe, era a chance de devolver-lhe a desfeita. Seu Antônio fez ponto no velho café expresso “A Merendinha” e, através de Chicão, proprietário da casa, aproximou-se de Neco de Luís Pezinho e Ari de Germiniano, amigos de campo e de copo do velho “Pensa”.

Depois de pagar doces vitaminas de abacate ou Toddy e bolos de leite, o pai injuriado imaginou com os cúmplices necessários à grande operação.

Ficara combinado que se amarraria uma cédula de um conto, a do retrato de Cabral, a uma linha como isca que atrairia o vândalo até um ponto de mais fácil captura onde seria dado o bote.

Barriga forrada, os supostos colaboradores foram ao amigo e informaram-no da trama. O mesmo chiclete pago pelo pai de Guerton foi colocado na sola da alpercata de Pensamento.

A alegria de Seu Antônio dobrou-se ao ver seu desafeto capengando. Pisava só com o calcanhar da perna direita. Era um pato morto, daquela vez ele pagaria o novo e o velho, festejou.

Pensamento seguia a cédula como a galinha segue o milho. O velho exultava, chegara o momento do bote. Nem desconfiou que o plano estava dando certo demais.

Até o fim dos seus dias não entendeu o que aconteceu.

Pensamento, como se fora um milagre, pisou firme com o pé direito na cédula e fugiu. Com o dinheiro colado em sua alpercata…

DO LIVRO ‘O CRONISTA DO BOATO’, DE VALIOMAR ROLIM

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