O sucesso da estudante Maria Clara

O primeiro lugar no vestibular para Medicina da USP coube a Maria Clara Lira, garota de pequena cidade do sertão paraibano. Medicina é curso de acesso dificílimo e a Universidade de São Paulo figura entre as mais conceituadas das Américas. Alvissaras, a mídia nacional focou no Nordeste de modo positivo. Não é pouca coisa. Uma adolescente de 17 anos, estudante do Instituto Federal da Paraíba, campus de Cajazeiras, como pode desbancar milhares de pretendentes do privilegiado Brasil desenvolvido!

– Um ponto fora da curva.

Foi como avaliou um amigo, muito próximo, quase um irmão mais novo. Ele me disse com a autoridade de mestre e doutor com aperfeiçoamento nos Estados Unidos. Tom pejorativo? Talvez uma descrença na qualidade do ensino público praticado no Nordeste. Assim, o inusitado brilho da sobrinha dos irmãos Lira, Soia, Nanego, Bertrand e Buda teria, para ele, apenas razões muito pessoais. Portanto, o mérito seria exclusivo dela. Quem sabe, pela dedicação excessiva, gigantesco esforço pessoal gerado em insondáveis motivações psicológicas.

A análise peca por ter foco estreito.

Concentra-se na pessoa, esquecendo de olhar ao redor. Tenta explicar pelo micro o que deve ser, também, visto numa perspectiva macro. Ora, milhares de jovens trancam-se para estudar, como fez Maria Clara. Por isso, é necessário ver bem a mudança no cenário do aprendizado, mudança derivada, primeiro, das facilidades de acesso criadas pelo bom uso da internet. Depois, é preciso enxergar a dinâmica do ensino no Nordeste, graças à difusão de cursos superiores e técnicos interior adentro. As estatísticas apontam a melhoria do nível do ensino público no Brasil profundo mercê da visão e do esforço de gestores públicos que vislumbram na educação instrumento de ascensão social, um eficaz caminho para redução das desigualdades entre grupos sociais, classes e regiões. Basta examinar os resultados dessa política educacional. Ceará, Pernambuco, Paraíba e outros estados do Nordeste aparecem como líderes nacionais no ensino ministrado em escola de tempo integral. Isso tem permitido que muitos nordestinos cheguem ao topo das listas nacionais de notas obtidas no Enem. Em redação é um banho!

Com essas considerações, longe de mim desconhecer o mérito individual de Maria Clara, que tanto mexe com nosso orgulho cajazeirense. Mas enxerguemos no seu sucesso, também, o reflexo de uma realidade nova. É só abrir o foco da análise para perceber.

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