Pacto com Ivan Bichara

Em crônica de 1975, Gonzaga Rodrigues insinuou que eu faria carreira política a partir do governo Ivan Bichara. Errou, mas foi certeiro na classificação de humanista. Sempre preferi leituras tipo sociologia, história, economia, ficção sem afinidades diretas com disciplinas escolares. No Ceará, o poeta Barros Pinho me apontava… olha aí o Guerreiro Ramos dos pobres, referindo-se ao autor de Redução Sociológica, editado pelo ISEB. Isso e o pacto com Ivan, Gonzaga ignorava.

Pacto explícito, feito meses antes da posse: não entrar na política. Assim, eu serei mais útil à sua gestão, disse a Ivan. Ora, o caminho partidário passaria por nossa terra, onde ele buscava equilibrar suas ações, sem melindrar as duas correntes da Arena: Chico Rolim/Antônio Quirino, de um lado, e Epitácio Leite/Edme Tavares, do outro. Aí está o motivo de ter ido a Cajazeiras muito menos do que gostaria, a fim de evitar intrigas subalternas. Apesar dessa precaução, o Correio da Paraíba, publicou em 1976 matéria em página interna, com o título Cartaxo será candidato, em alusão à disputa pela prefeitura de Cajazeiras. Como dizia Antônio Mariz, na Paraíba os jornais divulgam o que a gente pede… logo, logo conheci a fonte!     

Havia também outras razões.

Continuei com domicílio eleitoral em Fortaleza, portanto, impossível a filiação partidária na Paraíba. Bendita providência! Mais tarde, lembrei a Ivan nosso pacto quando surgiu a recomendação para que todos os seus auxiliares se filiassem à Arena. Clóvis Bezerra e Joacil de Brito Pereira, políticos desde sempre, foram fiéis arautos dessa missão. Fiz ouvido de mercador. Mas houve insistência. Então, tratei direto com o governador, em despacho de rotina tentei abafar a própria tensão. Ivan, perspicaz, logo cortou o arremedo de explicação:

– Esqueça isso, cuide de seu trabalho.

Desanuviado o clima, passamos ao segundo item da agenda e nunca mais se falou de filiação! Isso não significa que, vez por outra, não tivéssemos conversas políticas. Ivan me conhecia mais do que eu supunha. Poucos dias antes da posse, ele convocou ao Rio de Janeiro o futuro Chefe da Casa Civil, Fernando Milanez e a mim. Na calma de sua residência em Copacabana, nos deu cópia do discurso de posse. Lemos e relemos em silêncio. Depois fizemos observações gerais, planejamento e outros temas. Arrisquei sugestão de cunho político. Ivan anotou com naturalidade. Fitando-me comentou, assim fica mais incisivo. A pequena alteração encaixava-se melhor em seu ideário político.  

P S – O discurso de posse de Ivan pode ser lido em A fala do Poder: perfis e discursos de governadores da Paraíba, de Nonato Guedes

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