Mané Bugari ‘desconfia’ da santidade de Padre Cícero

DIRCEU GALVÃO

Mané Bugari é um amigo-irmão que tenho e tem uma particularidade: diz, com sinceridade d’alma, tudo o que pensa, independentemente de onde esteja ou com quem! E se for com ‘nome feio’ (palavrão), melhor ainda.

Não me lembro o ano, mas a foto e o ocorrido aludem ao batizado de Emmanuel, o primeiro filho de Bugari e Geralda. Mané tinha bigode e óculos. E juízo muito pouco!

Por exemplo: para sermos padrinhos de Emmanuel, tivemos que fazer um ‘cursinho’ preparatório, que consistiu, se não me engano, numa longa reunião na Igreja da Camilo de Holanda, em Cajazeiras.

Márcia e Geralda sentaram, pacientemente, à espera do começo da explanação religiosa. Mané não tinha – nem tem! – paciência para esperar e me arrastou (por óbvio, sem qualquer reação de minha parte) para um bodega próxima à igreja. Em meio a generosos goles de cerveja gelada a conversa girou em torno de assuntos aleatórios.

Um detalhe importante: não sei qual o motivo, mas Bugari não é ‘chegado’ a Padre Cícero! Claro que ele está errado. No mínimo, Padre Cícero tem relevância histórica na formação espiritual do nordestino. E eu dizer isto pra ele importava? ‘Nadica’ de nada! Meu ‘Padim Padi Ciço’ não era alvo do seu respeito ou consideração!

Sei bem que era chegada a hora de voltarmos à Igreja. Geralda de Bugari já nos chamava e dizia que a ‘mulher’ já ia começar a falar. A mulher – me esqueço o nome – era uma professora da, então, UFPB, em Cajazeiras, e auxiliava o clero com sua fé e conhecimento das coisas sagradas. E diante de todos – pais e padrinhos – ela começou a explicar a importância do batizado, da vida com Cristo e o papel relevante a ser exercido pelos padrinhos. Linda fala!

Na igreja, Bugari e Geralda sentaram na nossa frente. No transcurso da explanação da professora cristã, percebi que Mané Bugari já começava a se impacientar. A conversa estava se alongando. A agitação de Mané era um indício deste fato. Ele estava se ‘aperriando’!

Num dado momento, a professora começou a citar nomes de santos. Queria demonstrar o papel de cada um na consolidação da fé. O exemplo deles era que fortalecia a fé de todos! E passou a citar nomes. São José, São João, São Paulo, Santo Antônio, São Benedito, São Lucas, São Mateus….e haja nome!

Ao fim de bem uns cinquenta nomes de santo, é claro que ela não citou o nome de Padre Cícero! Mané Bugari percebeu e virou-se pra mim e disse bem alto:

“- Ó aí! Cadê que ela citou o nome de ‘Padi Ciço’! Hômi, aquele corno é lá santo!”

Nunca mais discuti com ele sobre o relevante papel do Padre Cícero na religiosidade nordestina! E o meu ‘cumpadi’ pode não acreditar em Padre Cícero, mas sendo o homem de bem que é, certamente, poucos terão – como ele – o sentimento cristão de amizade, respeito e dignidade pelos que o cercam.

DIRCEU GALVÃO É ADVOGADO E PUBLISHER DO BLOG SETE CANDEEIROS CAJÁ

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