O Atlético, sua tradição e uma homenagem

Compareci, no último domingo, ao estádio “O Perpetão” e assisti a suada Vitória do nosso Trovão Azul, uma das poucas, senão a única unanimidade de Cajazeiras: aqui, Gregos, Troianos, governo, oposição, e outras crenças ou idiossincrasias são superadas; todo mundo menos ou mais, torce pelo Atlético. Excetuando-se os clubes de Campina Grande, podemos dizer que é o time de maior torcida na nossa região, que tem seus torcedores principalmente nas camadas mais pobres de nossa cidade e região: o Atlético tem torcedores até na cidade de Sousa, e não que saiu daqui, e não vi no Atlético de domingo, futebol, apesar dos esforços de seu Presidente Essuélio, de quem muito gosto e de sua diretoria, meia dúzia, se chega a tanto, de abnegados que empreendem a espinhosa tarefa de colocar o Mais Querido do Sertão em campo, com os recursos insuficientes que dispõem. Fica aqui o reconhecimento.

Uma das coisas que mais ouvimos nas partidas do Trovão é seu hino em que se canta “Mil novecentos e quarenta e oito, um ano…”e por aí vai, então para quem não conhece a história do Atlético, antes existia um time formado de meninos ligados à igreja, chamado de Oratório, que disputava os campeonatos locais, e havia um time que era o maior da cidade, o Tabajaras de Sérgio David. Então quando por aqui passou pelo Banco do Brasil aqui se casou com uma Sobreira, Heraldo Costa, ele mais meu tio Dr. Hygino Pires (Gineto), e outros, resolveram formar um time amador mais adiantado em nossa cidade, então procuraram os times menores, inclusive e especialmente o do Oratório e ofereceram uma coisa que ninguém podia resistir: jogar de chuteiras (quase todo mundo jogava de pés descalços), e formaram o Atlético, que o próprio Heraldo quando largava o Banco do Brasil, ia de paletó e gravata treinar o time, e foi o primeiro treinador da região, ficava ensaiando jogadas, acertando esquemas, no meio do campo, e as cores alvi-azulinas foram as escolhidas para o padrão que resiste até hoje.

Foi um sucesso tremendo, com jogos memoráveis inclusive como vemos numas fotos de arquivo, eram bem adiantadas para a época, onde havia um amadorismo primitivo. Então, todo mundo daquela época participou de alguma forma desse tempo em que eu nem era nascido, mas pelas histórias que contava Zé de Souza, que se dizia da formação original do Atlético, e até hoje contam Tantino Cartaxo, João Claudino (que conheci como dirigente do Estudante na década de 60), e os mais velhos, se falam muitas histórias desse Atlético inicial, e Babí, Vaqueiro, Cocada, Nêgo Rubens, são jogadores que nunca os vi jogar, mas de tanto ouvir, me impregnou na memória e parece que até hoje estão jogando.

Agora, vou falar do que me estimulou a escrever essas linhas: depois desse entusiasmo inicial, como é regra acontecer em nossa cidade de tão fraca memória, o tempo passou, o povo cansou, e se formaram novos times que os vi jogar, o Estudante, o Santos de Sérgio David e outros. Perpétuo, Fuba, Néco, Mucuim, Renê e meus ídolos do futebol da cidade, nunca jogaram no Atlético.

Quando cheguei aqui, trabalhava na algodoeira Galdino Pires, um funcionário que eu gostava, e que de vez em quando a gente sabia de alguma coisa de um time que ele era tudo: Fundador (foi fundador do Atlético inicial – Obrigado Reudesman), dirigente, treinador, roupeiro, tudo nesse time, e ele sempre disputava o campeonato da cidade, com brilho ocasional que rendia alguns pequenos comentários.

Mas mesmo na sua humildade, foi a figura mais importante da História do Atlético, o pouco lembrado e menos ainda festejado, Francisquim Meurimão (corruptela de meu irmão), que praticamente sem ajuda de ninguém, levou, manteve vivo o Atlético e as cores alvi-azulinas vivas por mais de vinte (ou trinta) anos.

Nilsinho, que me propôs que escrevesse sobre ele, chamou, e não existe outro adjetivo que se possa qualificar, a não ser de Herói, e o feito de Fransisquim Meurimão, foi, guardadas suas proporções uma verdadeira travessia do deserto. Fato foi quando da inauguração do novo e grande Estádio de Futebol (Wilsão, hoje Perpetão), o Atlético e sua tradição ainda existiam e o time foi reassumido por Gineto, Beto Pires, Taciano Grangeiro e lá no fundo; eu que tive a honra de ser o primeiro tesoureiro  do Atlético profissional, mas sem o sacrifício de décadas de Francisquim Meurimão, essa tradição teria se perdido, e outro time, com cores de menos tradição estaria a disputar o campeonato paraibano.

De fato, o Atlético de Francisquim Meurimão precisa de mais apoio, e faltam, e como faltam (e me incluo nessa lista) de figuras como esse cidadão que segurou tanto e com tanta paixão nosso Mais Querido. O desempenho do Atlético de hoje, deveria ser melhor que está sendo, mas seus torcedores ficam com naquela desculpa de “eu pago o ingresso” e contribuo, o que se paga é o evento: juízes, bandeirinhas, a marcação e outras despesas do estádio, o furto da Federação, e o que sobra não dá, nem de longe, para manter um plantel, e se fica obrigado a fazer todo ano um pega-na-rua, sem a base do time, antes, nos tempos do amadorismo, se empregavam os melhores jogadores em firmas da cidade, e eles depois do serviço, ou um pouco antes eram dispensados para os treinos.

Agora isso não mais funciona, parece que o torcedor acredita que o clube possa ser uma espécie de repartição pública, o governo municipal deveria, contrariando as leis, bancar o time. Existem meios transversos, que algum político possa dar alguma ajuda, mas para se formar um clube à altura da tradição de nossas cores, deve existir um quadro de sócios, que queiram contribuir para que a base do time fique permanentemente aqui, e treinando/jogando, para que possamos não esperar que se continue na primeira divisão do paupérrimo campeonato estadual, mas disputando o título, e se mil, dois mil torcedores contribuírem com modesta quantia, isso é perfeitamente factível.

O que não podemos é ficarmos de braços cruzados. O time precisa manter sua tradição. Parece que a gente fica a esperar que outro herói abnegado como Francisquim Meurimão possa surgir, é extremamente improvável. Sem tecer crítica à atual Diretoria, nós atleticanos, temos que ter a consciência de que o time é nosso, que é uma extensão de nós e de nossa cidade que está em campo, dar aos visitantes a impressão de que temos organização, que somos a gente que manda aqui representados por um time vencedor, e isso não se consegue deixando essa tarefa para outros, temos que participar, não só comparecendo aos jogos…

Fica a homenagem. Tem razão Nilsinho: Francisquim é um herói!

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