Cantor cajazeirado Ba Freyre morre aos 68 anos em Israel

Morreu nesta terça-feira (12), aos 68 anos, em Telaviv, Israel, o cantor e compositor cajazeirado Ba Freyre. O artista foi vítima de diverticulite e morreu durante processo cirúrgico de urgência. O seu sepultamento será em Jerusalém.

Ba Freyre foi parceiro, durante muitos anos, do cantor Tom Zé e do cineasta Rosemberg Caryri, seus dois grandes amigos ao longo da carreira profissional e da vida. O cantor morava desde 1992 em Israel, e lá buscava ser um difusor de ritmos musicais nacionais menos conhecidos no exterior, entre eles baião, xote e forró.

José Zilmar de Queiroga Freire nasceu em Sousa, filho de João Batista Freire, o João Cassiano, e de Olívia Queiroga Freire. Ele se mudou ainda jovem para Cajazeiras, onde montou bandas e participou de diversos festivais de música. Nos anos 1960, seu pai, João Cassiano, era proprietário de uma movelaria localizada na Avenida presidente João Pessoa, no centro de Cajazeiras.

Festivais

Na adolescência, juntamente com seu irmão Francisco (Peta) Freyre e seus grandes amigos Daladier Marques, Luiz Alberto Granjeiro, Waliomar Rolim e Alberto Holanda, Ba funda sua primeira banda de música, que começa a animar festinhas locais em clubes, casa de amigos e escolas.

A banda também toca nos primeiros festivais. No Festival Regional, em Campina Grande, a banda participa com a música “Feito brasileiro”, obtendo o segundo lugar.

No Festival Regional de Cajazeiras, a banda participa três vezes e, em todas, conquista o primeiro lugar com as músicas “Margarida” (Ba Freyre e Joaquim Alencar), “Alô Caja Alô” e “Apoena”.

Neste período, Ba é convidado pelo conhecido empresário musical Chico Bem Bem para participar de seu conjunto, que passa a contar com os seguintes músicos: Ba Freyre (guitarra solo e vocal), Perneca (Sax e flauta), Nego Ivan Quirino (Trompete), Waldemar de Cazuza (Bateria), Firmino de Patos (Contrabaixo), Peta Freyre (Guitarra base e vocal) e o próprio Bem Bem (Vocal e empresário).

Com Bem Bem, Ba Freyre teve oportunidade de animar festas em várias cidades do Nordeste.

Tudo pela música

Aos 17 anos, Ba Freyre muda-se para Fortaleza (CE) com a família e, um ano mais tarde, ingressa na Faculdade de Direito do Ceará. Sua vocação e talento para a música, no entanto, não permitiam com que se concentrasse nas aulas de Direito Civil e Penal. Contra a vontade de sua mãe, que queria vê-lo formado, Ba Freyre decide-se pelo mundo da música, no qual evidenciaria seu talento e carisma.

Ba descreve muito bem todo esse período de pequenas conquistas e de início de carreira na canção ” Tudo pela música”.

Jovem e sonhador, começa a ampliar seu palco através do Circo Bartollo, com o qual, durante alguns meses, viajou por várias cidades do Norte e do Nordeste do Brasil.

De volta a Fortaleza, Ba resolve viajar para Cajazeiras para reencontrar com seus grandes amigos, entre eles Walderez Gomes, que o indicou para a banda “Ases do Ritmo”, no Crato.

No Crato

A banda “Ases do Ritmo” era composta pelos músicos: Hugo Linarde (piano), Jairo Starker (percussão), Mano Malaquias (trompete), Neno (bateria), Cleivan Paiva (guitarra solo), Fanca (vocal), Demontier (percussão e vocal) e Bill Soares (contrabaixo).

Durante esse período, Ba conhece vários artistas, entre eles Rosemberg Cariry, poeta, escritor e cineasta, que se tornou seu grande amigo e parceiro. Dessa parceria, juntamente com Cleivan Paiva, nasceram as trilhas sonoras das peças teatrais de Rosemberg “Romance da Pedra Bonita”, “O beato de Zé Lourenço”, “Dias do futuro” e “O Cariri por exemplo”. Juntos, Ba e Cariry tambem participam do Festival Regional do Cariry com a música “Pedra Bonita”, obtendo o segundo lugar.

Aos 21 anos, Ba forma sua primeira banda com material próprio – “Ave de arribação” – junto com Rosemberg Cariry (mentor intelectual da banda), Cleivan Paiva (guitarra solo), Izânio Santos (contrabaixo e guitarra), Demontier Freitas (bateria) e Tapioca (contrabaixo).

Um ano mais tarde, o compositor emigra para São Paulo com sua banda, começando uma nova fase em sua vida.

Em São Paulo

Em São Paulo, Ba Freyre e seu grupo participam de eventos em feiras livres, bares, teatros, clubes.

Em 1981, o grupo participa de seu primeiro grande festival em São Paulo – Festival Universitário da TV Cultura – com a música “Ribanceira” (Cleivan Paiva e Ivan Alencar).

Aos 25 anos, Ba Freyre resolve seguir carreira solo e monta a banda “Amor Instantâneo” com Bill Soares e Tapioca (contrabaixo), Beto Carrera (guitarra), Evaldo Gaúcho e Beto Bispo (bateria), Cacá Malaquias (Sax e flauta), Lazarine e Cezar Napoli (piano) e Billy (percussão). Com a banda, participa de vários shows em locais como Sala Guiomar Novaes, Sesc Pompéia, Estação Vergueiro, etc. Nesse mesmo período, Ba compõe várias canções com Pedro Costa e Zeca Bahia, entre elas “Flor da Magia”, gravada pelo falecido Jessé e por João Pimenta.

Dois anos mais tarde, Ba começa a trabalhar com o compositor e cantor Tom Zé, um dos fundadores do movimento Tropicália. Durante três anos, o músico tocou com Tom Zé, participando de vários projetos culturais e viajando por todo o Brasil.

Neste período, Ba Freyre se casa com a sua primeira esposa. Dessa união, nascem suas duas filhas, Talita e Tamar. Pouco depois do nascimento de Talita, o compositor volta para Fortaleza, dando início a mais uma nova fase de criação em sua vida.

De volta a Fortaleza

Ba Freyre volta a compor com seu grande parceiro Rosemberg Cariry, que o ajuda a preparar seu primeiro disco solo.

Em 1990, lança seu primeiro disco pela editora Nação Cariry, co-produzido pela BMG Ariola de São Paulo. O disco é muito bem aceito pela crítica. Ba volta a São Paulo para iniciar uma turnê pelo Brasil divulgando o álbum como parte do “Projeto Pixinguinha”.

Após o “Projeto Pixinguinha”, Ba participa do “Projeto Seis e Meia”. Nesse período de muito trabalho, seu casamento sofre uma pequena crise e sua mulher resolve viajar para Israel com as duas filhas por alguns meses. Durante a estada de sua família em Israel, estoura a Guerra do Golfo. Preocupado, Ba rescinde compromissos no Brasil e vai para o Oriente Médio, ao encontro da família. Em 1992, Ba chega em Israel, dando início a mais uma etapa na sua vida.

Em Israel

Chegando em Israel, Ba Freyre começa a cantar nas ruas de Jerusalém junto com outras dezenas de novos imigrantes em busca de alguns trocados. Sua voz incomparável e o seu talento, no entanto, o distinguem dos demais e, em menos de um mês, se torna o cantor da melhor banda brasileira/israelense do momento, a “Makumba”, formada, além dele, por Jorge Lima (bateria), Roni Ivrin (percussão), Chacho Shwartz (guitarra solo) e Naomi Bloch (teclados).

Com “Makumba”, Ba interpreta grandes nomes da música brasileira e inclui no repertório músicas de sua autoria em parceria com os próprios integrantes da banda, que começa a fazer sucesso no pais.

A banda “Makumba” passa a trabalhar com a companhia de shows “Coco Loco” fazendo várias apresentações por toda Israel e em paises vizinhos como Turquia, Chipre e Grécia. Com a banda, Ba também participa da abertura do show da cantora Gal Costa em Israel.

Após quatro anos de trabalho contínuo, a banda “Makumba” se desintegra. Parte dos componentes parte em busca de novos horizontes nos EUA e Ba, juntamente com Roni Ivrin, monta uma nova banda, a “Obioba”.

Obioba

Com a “Obioba”, Ba trabalha com grandes músicos instrumentistas de Israel: Alon Nadel (baixo e arranjador), Rami Levin (piano), Amir Grivisman (Sax e flauta), Israel Nahum (bateria), Roni Ivrin (percussao e vocal) e a atriz e cantora Galit Guiat (voz). Devido aos seus compromissos televisivos, Guiat é substituida pela talentosa cantora brasileira Guida Moira.

Com a “Obioba”, Bá participa de vários festivais em nivel nacional. No “Festival Israel” (Tel Aviv – 2002), grava um disco gravado ao vivo com a participação do cantor cubano Alfredo Sotolongo. A banda também se apresenta em outros eventos como “Festival jazz & blues em Tel Aviv”, “Festival de jazz” (Kibutz Gaash), “Festival de jazz” (Haifa) e “Festival Internacional de jazz do Mar Vermelho” (Eilat). A “Obioba” também se apresenta junto com grandes nomes da música como Sierra Maestra de Cuba e Rami Kleinstein.

Nessa época, seu casamento chega ao fim.

Nova fase

Depois de um curto período tumultuado pela separação, o cantor e compositor conhece sua nova esposa, Tânia, mãe de três filhos, Uzi, Arik e Maya. Juntos, dão início a mais uma etapa da carreira músical de Ba Freyre.

Passado o festival de Eilat, em 2004, Ba opta pela formação de uma nova banda com músicos mais jovens, dando um outro colorido ao seu trabalho e criando um estilo próprio, que mistura MPB com jazz latino.

Com esse trabalho ele vem se apresentando em vários clubes de jazz e festivais, entre eles “Festival Cinematec em Jerusalém”, “Fiesta” (festival de música sul-americana), “Festival Milestone”, “Shuni” (DVD) e “Festival de Música Clássica de Latrun”

Em seguida, Ba executou seu novo projeto, um dueto com o percussionista israelense Dani Benedict, que, juntos, buscou a riqueza e o exotismo da música popular brasileira.

Ba interpretou, entre outras, músicas de Djavan, Caetano Veloso, Chico Buarque, João Bosco, Nelson Cavaquinho e de sua própria autoria, acompanhado de sua guitarra e cavaquinho, enquanto que Dani tocava tablas, pandeiro, bateria e percussão.

Paralelo a isto, Ba viajou para Fortaleza, aonde gravou o disco, “Às Claras”.

Às Claras

“Às Claras” é uma espécie de balanço geral de todas essas experiências. É um disco que tem bossa, samba, xote, bolero, funk e baladas, além da étnica “Bahia Lugar de Amor”, faixa que fecha o disco, apontando para uma mistura de ritmos e culturas. Todas as faixas do disco respiram, inspiram e transpiram a brasilidade musical de Ba Freyre, formado na escola nordestina de Luiz Gonzaga e Hermeto Pascoal, bem como no delírio harmônico da bossa-nova. O disco conta com o apoio dos músicos Ítalo Almeida, teclados e arranjos; Cainã Cavalcante, violões, guitarras, cavaquinhos e violas; e Miguéias de Sousa, baixo.

Carreira solo

Como solista, Ba participa da abertura do “I e V Festival de cinema brasileiro em Israel” (2002, 2007), do “Tributo a Tom Jobim e Villa-Lobos”, com a direção musical de Uri Bracha e participação da orquestra filarmônica de Israel (2004), do “Tributo a Dorival Cayme e Vila lobbos” junto a orquestra de cordas e coral Fenix regido por Myrna Herzog (2009). Ba também dirige grandes eventos com presença dos maiores representantes da música brasileira no país, entre eles, destacam-se o “Carnaval de Verão” em Cesarea (2005) e o show da Independência do Brasil em Tel Aviv (2005), no qual estiveram presentes mais de 20.000 visitantes

Ba Freyre possui obras gravadas por músicos que vivem em Israel, no Brasil e na França.

Em 2017, durante lançamento do CD “Anjo do Deserto” na capital cearense, Ba Freyre recebeu o titulo de Cidadão Cajazeirense das mãos do então presidente da Câmara Municipal de Cajazeiras, Marcos Barros, e do vereador Rivelino Martins, que foi o propositor do título.

Ba Freyre tinha imenso carinho por Cajazeiras. Ele demonstra esse sentimento na canção “Alô, Cajá, alô”, de sua autoria, que ganhou o primeiro lugar de um Festival Regional da Canção, na década de 1970.

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