Academias concedem imortalidade a autores e suas obras

Existem estudiosos de todas as áreas — cinema, música e poesia; engenharia, medicina e odontologia; administração, economia e literatura de cordel. As possibilidades são inúmeras e, da mesma forma, são as academias, associações civis sem fins lucrativos, que congregam nomes de destaque nas letras, ciências e artes.

A primeira academia de que se tem registro foi fundada por Platão, por volta de 387 a.C., em Atenas, na Grécia. O local funcionava como uma escola de filosofia, onde os pensadores da época se reuniam para discutir suas ideias. O nome deriva do grego Akademus — também conhecido por Academus, Academo ou Hekademos — herói ático que, segundo a mitologia, teria mostrado aos irmãos de Helena, Castor e Pólux — ou Polideuces — o local onde ela estava sendo mantida cativa por Teseu, antes mesmo da Guerra de Tróia. Segundo a história, após sua morte, o túmulo de Akademus foi rodeado por um jardim de oliveiras, onde Platão teria erguido sua academia.

Na Paraíba, existem diversas instituições acadêmicas, à exemplo da Academia de Letras de Campina Grande (ALCG), Academia Princesense de Letras e Artes (Apla), Academia Feminina de Letras e Artes da Paraíba (Aflap), Academia de Cordel do Vale do Paraíba (ACVPB), Academia Paraibana de Cinema (APC), Academia Paraibana de Letras Jurídicas (APLJ), Academia Paraibana de Medicina (APMED), Academia Paraibana de Ciência da Administração (APCA) e, entre tantas outras, a fundada mais recentemente: a Academia Paraibana da Ciência Econômica (APCE), criada em setembro.

Uma das mais conhecidas do estado é a Academia Paraibana de Letras (APL), fundada em 14 de setembro de 1941, com sede e foro na cidade de João Pessoa. De acordo com Ramalho Leite, presidente da APL, “para se fundar uma academia, basta que haja boa vontade de um indivíduo ou grupo, que deseje alcançar os objetivos previstos no estatuto da academia que se queira fundar”. Além dos objetivos, o estatuto da academia também discorre acerca das possíveis formas de alcançá-los.

Entre os objetivos da APL, estão “registrar, difundir, preservar e estimular a cultura e as realizações literárias e artísticas do estado da Paraíba, notadamente pelo estudo e divulgação das obras e realizações culturais de personalidades, nascidas no estado ou não, importantes para a realização daqueles objetivos”. Para alcançar os fins indicados, a instituição desenvolve alguns trabalhos, como “constituir-se em centro de divulgação da literatura e das artes paraibanas”, “realizar estudos e pesquisas artísticos e culturais”, “manter intercâmbio ordinário ou eventual com entidades culturais e artísticas nacionais”, “promover concursos” e “concorrer para o estudo continuado da língua portuguesa e da literatura brasileira”.

A APL compreende 40 cadeiras permanentes — à exemplo da Academia Francesa (AF) e Academia Brasileira de Letras (ABL) — cada uma sob a denominação de um patrono designado em caráter permanente, na fundação da Academia, ou posteriormente, pela Assembleia de Associados da entidade. Segundo Ramalho Leite, “os membros da APL são escolhidos por eleição direta e por maioria absoluta, após terem seus nomes aprovados por uma comissão especialmente designada para essa finalidade”.

Sobre a ocupação das cadeiras, o presidente explica: “Após a sessão de homenagem a um acadêmico falecido, é aberta uma vaga. A partir desse dia, começa a decorrer prazo de 60 dias para a apresentação de candidatos. Atualmente temos uma vaga, da cadeira que foi ocupada pelo jornalista Sitônio Pinto. Já existem dois inscritos: os jornalistas e escritores José Nunes e Clemente Rosas”. Para Ramalho Leite, a proclamada “imortalidade acadêmica” dos ocupantes das cadeiras consiste na preservação e perpetuação da sua memória, através dos sucessores.

Atualmente, a APL está desenvolvendo um projeto chamado Prioridade da Leitura na Sala de Aula, que pretende divulgar autores paraibanos e incentivar a leitura e a escrita entre os estudantes das escolas públicas.

Em Cajazeiras, arte, cultura e literatura em pauta

Na extremidade ocidental do estado, uma outra academia foi criada. Conhecida como “a cidade que ensinou a Paraíba a ler”, Cajazeiras fundou sua Academia Cajazeirense de Artes e Letras (Acal), oficialmente, em 24 de maio de 2019. A instauração da entidade era um projeto antigo, que começou a ser pensado no bicentenário do padre Inácio de Sousa Rolim, sacerdote católico e educador brasileiro, em agosto do ano 2000.

Linaldo Guedes, poeta e jornalista que atualmente ocupa a cadeira 33 da Acal — cujo patrono é Dom Moisés Coelho, primeiro bispo de Cajazeiras — conta que a Academia “foi criada a partir de um grupo de abnegados, que consideraram que estava na hora da chamada terra da cultura ter sua própria academia. Isso foi tentado em várias oportunidades. Até que, em 2018, se acentuaram as reuniões entre futuros acadêmicos”

“A partir daí se definiu o perfil da Academia, e começamos a definir os patronos e patronesses da entidade. Feito isso, partimos para a fase dos convites aos futuros imortais. Por fim, realizamos uma assembleia aberta ao público, onde foram referendados os nomes dos imortais e os seus respectivos patronos e patronesses”, conta o poeta. Logo após, veio a parte burocrática e jurídica: registrar a entidade em cartório, abrir conta em banco em nome da Academia e a eleição da primeira diretoria.

Desde sua fundação, a Acal publicou dois livros. O primeiro deles — Patronos e Patronesses — reúne os perfis dos padrinhos e madrinhas das 40 cadeiras da instituição, escritos pelos imortais que ocupam as respectivas cadeiras. Depois veio a Revista da Acal, em formato de livro com discursos acadêmicos, fotos, poemas, contos, crônicas, ensaios e resenhas escritos pelos membros da Academia, com espaço para colaborações de professores universitários e outros intelectuais. “Também realizamos fóruns e painéis de debates sobre centenários de alguns dos nossos patronos e patronesses, como Rosilda Cartaxo, Deusdedit Leitão e Luis Gualberto. Este ano, a Academia conseguiu ter sua sede própria, localizada no Espaço Cultural Eliezer Rolim, em Cajazeiras”, diz Linaldo Guedes.

Para o jornalista, “as Academias de Letras são instituições que visam o aprimoramento da língua nacional e, no caso de algumas, o registro da linguagem regional”. Além disso, “fomentar a pesquisa, a preservação da memória, e estimular novos autores e talentos que possam surgir na cena literária ou cultural local” também fazem parte dos deveres de uma academia. “Uma casa de saber, em torno da arte, cultura e literatura”, resume.

COM INFORMAÇÕES DO JORNAL A UNIÃO

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