Valdenez, irmã de Ferreirinha

Caro leitor: estou começando a pensar que o que sempre me está dando aos senhores seria a notícia que alguma pessoa de quem eu gostava morreu, de fato, em vez de ficar fazendo minhas críticas abomináveis, fico a lamentar algum(a) amigo(a) que se foi dessa para melhor (será que é mesmo melhor?), as últimas vezes que uso desse espaço, é para escrever lamentações; estou ficando tipo o Profeta Jeremias.

De fato, há mais ou menos uma década, eu lamentei que quando chegava o final de um ano para outro, eu ficava a ver alguns amigos morrerem, chamei isso até de “cantochão sinistro”, isso por que um amigo e a mãe de outro morreu, agora nem sei o que escrever, pois ultimamente a cada quinzena, eu estou a perder uma pessoa que gosto, e como não mais a vou ver, a não ser que exista a tal da vida eterna, tenho quase a obrigação de registrar a perda dessas pessoas, pois eram realmente queridas e me vão fazer falta.

Domingo, eu estava curtindo minha virose no fundo da minha rede, aí um amigo ligou e perguntou a que horas era o enterro… Eu perguntei de quem; alguém que eu conheço morreu? E ele disse V. não sabe? Valdenez, a irmã de Ferreirinha, morreu ontem e hoje é seu enterro. A doença teve que desaparecer, eu quase deixava de me despedir dela, que juntamente com seu irmão, foram pessoas que convivi durante toda a minha vida, menos de uma semana atrás, eu tinha encontrado com ela, falado de como estava nova e outras futilidades, e ela como sempre respondeu dizendo que era brincadeira e sorrindo; ela sempre sorria e para todo mundo. Fiquei abalado e sai para lhe prestar uma última homenagem.

Quando reclamei ao amigo-irmão de sempre Armando Melo, ele disse: Meu amigo, o povo da nossa convivência está indo para o outro lado, você podia fazer como aqueles candidatos a vereador analfas dessas cidadezinhas, que  decoram um discurso e vão repetindo durante a campanha: Tudo bem, mas fazer o famoso Ctrl C – Ctrl V para meus amigos é injusto tanto com eles quanto comigo e também com meus parcos leitores, seria como aquelas louras burras que têm a cabeça para separar as orelhas, não: Cada pessoa que eu convivi foi especial, e Valdenez Leite Ferreira também era, então, como não vou ter meios de dizer a ela muito mais, vou perquirir nos desvãos da memória e trazer alguma coisa realmente especial.

No fim da década de 60, ou em 1970, eu era um adolescente que ia às festas daqui, e uma vez, e me lembro perfeitamente que era na quadra de AABB, então recém inaugurada, faltando uns vinte anos para que fosse coberta; eu, por mera brincadeira chamei Valdenez e disse vamos dançar? E ela, ainda bem nova, respondeu que sim. Agora tem o detalhe: Eu nunca tinha dançado na vida nem sabia direito o como era, e fiquei em pânico, tropeçando em mim mesmo, tentando o que nunca eu tinha feito. Ela, com a paciência que a tornaria famosa, notou meu estado, e tentou me ensinar o que Aldir Blanc, bem dez anos depois tornaria o título de um famoso bolero: O dois p’rá lá dois p’rá cá, assim comecei, minha vida de dançador (dançarino é outra coisa), e a primeira vez a gente nunca esquece; alguém tirou até uma foto naqueles monóculos jurássicos que erma a moda da época, que guardei até outro dia. Naturalmente, seu irmão Ferreirinha fez gozação comigo um tempão e de vez em quando eu comentava este fato com Valdenez. Ela sempre sorria…

Depois teve o Estadual, que foi funcionária, ainda viveu em Teresina (acho) cuidando de Fonfon, que foi jogador do time Estudante na década de 60, e agrônomo, se envolveu num acidente automobilístico em que ficou tetraplégico, e Valdenez cuidou dele durante bem dez anos, depois cuidou de Antônio Simão na velhice até ele morrer, e durante toda a vida, de seu irmão Fefê. Sempre aquele anjo de paciência, que quando saía do normal, era por alguma coisa muito excepcional.

Alguns dias atrás, eu passando por lá por acaso, a vi em casa e ela disse que tinha levado uma queda, não achei que fosse nada sério, mas era e no último domingo quase não me despeço de minha querida amiga.

Se existe céu, Valdenez deve estar lá. Obrigado minha amiga, por ter a oportunidade de a ter conhecido.

Vamos torcer para que não tenha que homenagear ninguém e tecer minhas críticas irresponsáveis, que é muito menos incômodo…

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