Em inúmeros casos, a lembrança da música que “enfeita” ou complementa o enredo do que se passa na tela nos gruda no ouvido, fazendo-nos, muitas vezes, desvincular uma coisa da outra. Explico-me melhor: há inúmeros casos em que a música/tema de um filme, após a exibição deste, vai se perpetuando no dia a dia do ouvinte, transcende o tempo, fazendo-nos assim, aos poucos, ir esquecendo o enredo e a trama da película, mas não esquecendo a sua trilha sonora, seja na versão original, seja na versão tupiniquim que, felizmente em poucos casos, nem sempre se mantém fiel ao original.
Num exercício de memorização, havemos por bem relembrar, de passagem, algumas
dessas músicas.
Começamos com as trilhas sonoras apenas musicais, ou seja, aquelas bandas sonoras que não dispõem de letras, mas somente da música propriamente dita:
• Also Sprach Zarathustra/Assim falou Zaratustra, clássico de Richard Strauss, música revivida no filme de ficção científica 2001 – A Space Odyssey/ 2001 – Odisseia no Espaço (1968), que adquiriu um “sabor” popular, sobretudo na versão meio pop de (Eumir) Deodato (arranjo e gravação de 1972);
• outro tema desprovido de letra, porém de grande apelo popular, é o original soundtrack de Zorba The Greek / Zorba, o Grego, música composta por Mikis Theodorakis, compositor grego. O enredo do filme, que teve Anthony Quinn (1915-2001) como o intérprete do papel principal, foi esquecido, porém permanecem na nossa memória afetiva a melodia e a cena da dança do ator mexicano/estadunidense ao som dessa;
• não se pode esquecer a popularização das composições de Wolfgang Amadeus Mozart, que compõem a trilha sonora do épico Amadeus, filme de Milos Forman (1984), conduzidas pelo maestro/orquestrador inglês Neville Marriner. Incrível falar que, somente após o filme, é que muitos passaram a conhecer a música do celebrado compositor austríaco Mozart;
• na mesma linha do filme anterior, o Immortal Beloved / Minha Amada Imortal (1964), drama romântico-biográfico-musical, do diretor britânico-estadunidense Bernard Rose, com a condução musical de Sir Georg Solti (London Symphony Orchestra), obviamente nos familiariza com a música do compositor alemão Ludwig van Beethoven;
• ainda nos moldes do anterior, agora, porém, com um toque jazzístico, The Glenn Miller Story / Música e Lágrimas (1954) é um musical classificado pela crítica especializada como de drama biográfico. Embora o enredo nos fale do músico e arranjador Glenn Miller, morto em desastre aéreo, no Canal da Mancha, durante a II Guerra Mundial, o que marcou época foi a trilha sonora que nos traz os grandes sucessos do band-leader norte-americano. No filme, com direção de Anthony Mann, cuja trilha sonora ganhou o Oscar de melhor som (1955), sobressai-se a interpretação do ator estadunidense James Stewart (1908-1997), no papel principal;
• com a mesma pegada jazzística clássica, The Man With The Golden Arm / O Homem do Braço de Ouro (1955), sob a direção de Otto Preminger, nos oferece, além do tema musical, que também marcou época, o desempenho de Frank Sinatra ao lado de Eleanor Parker e da
a estonteante Kim Novak. Elmer Bernstein nos premiou com um hit digno de figurar ao lado dos melhores temas do jazz de Glenn Miller;
• a sessão desta semana se encerra com o tema de The Pink Panther / A Pantera Cor de Rosa, filme de Blake Edward (1963) que, após uma preparação, em uma série de desenhos animados criada por Friz Freleng e David H. DePatie, levou à tela grande a hilariante figura da pantera que já havia se popularizado. A comédia, com enfoque de mistério, celebrizou a figura do Inspetor Jacques Clouseau, vivido pelo ator e cantor britânico Peter Sellers, contracenando com o também britânico David Niven. Mas a trilha sonora do filme sobrepujou em muito o sucesso deste, sendo, ainda hoje, lembrada pelos aficcionados cinéfilos. A título de curiosidade, foram ainda produzidos, posteriormente, dez filmes pela franquia The Pink Panther, dos quais o de 2006 foi o último a fazer sucesso, talvez alavancado pela presença de um público saudosista, que se afeiçoou à trilha sonora da versão original, composta e executada por Henry Mancini.
