Trilhas sonoras (conclusão)

Não é novidade se afirmar que, desde algumas décadas, a origem dos filmes e seriadosexibidos nos cinemas e nas TVs do Brasil têm sido os EE.UU., a Inglaterra, a França ou a Itália, para falar apenas nos mais assíduos em nossas telas.

Evidentemente, é dentro desse espaço fílmico que vamos buscar alguns “temas musicais” (e aqui me refiro a temas que constam de músicas e letras) que, de certa forma, se desvincularam do enredo do filme propriamente dito para permanecerem no nosso subconsciente musical, fazendo lembrarmo-nos destas sem as associarmos àqueles. Explico-me melhor: o filme, nós quase que o esquecemos, já a trilha sonora – a música tema – ficou gravada em nossa memória musical, não nos permitindo dela nos afastarmos.

O que estou querendo lhes dizer é que “foi-se o filme, mas ficou a música”.

Vamos a alguns títulos e comentários:

Limelight – Luzes da Ribalta. O filme tem a patente inglesa (1952), e a melodia original foi magistralmente composta pelo próprio Charlie Chaplin, servindo de acompanhamento às cenas em que Terry (Claire Bloom), potencial suicida, recebe a atenção/afeição do palhaço Calvero (Chaplin), que devolve a ela sua autoestima. Larry Russel colaborou com o autor,
fazendo os arranjos musicais e, provavelmente, uma letra em inglês da qual, por aqui, não
se conhece nenhuma gravação. Nesta se fala de “viver sob os holofotes” (living in the Lime light); de um “palco iluminado” (lighted stage); “O mundo é de fato um palco” (All the world’s indeed a stage) etc., enquanto que a “versão nacional”, embora mantendo-se fiel ao poema original, adquiriu “vida própria”, com o título de “Luzes da Ribalta”, engenhosamente trabalhada por João de Barro, o Braguinha, e Antônio Almeida. Quem não se lembra de “Vidas que se acabam a sorrir / Luzes que se apagam, nada mais”… Já, a partir de 1953, aproveitando o sucesso do filme, incontáveis gravações foram feitas por aqui, com destaque para algumas: Trio de Ouro, João Dias, Nora Ney, Cauby Peixoto, Francisco Petrônio, Moacyr Franco, Bethânia, Alcides Gerardi, José Augusto e até Zezé de Camargo & Luciano. Dignas de nota também são as gravações alienígenas, como a do tenor Plácido Domingo e as orquestrações de Mantovani, Andre Rieu e Paul Mauriat. O filme se foi, mas a música ficou…

• Modern Times – Tempos Modernos. Smile tornou-se um clássico da era do cinema mudo, nos EE.UU. (1936). O eterno e querido Vagabundo (Chaplin) se vê confrontando com as máquinas, que o dominam, causandolhe vários percalços que nos são passados em suas clássicas gags. Preso várias vezes, por desencontros com os “tempos modernos”, entre uma e outra prisão, conhece uma carente garota órfã (Paulette Goddard), e ambos lutam contra o establishment progressista. (Imagine-se esse “palhaço” diante do modernismo tecnológico de hoje?…) Smile, mais uma vez, nos mostra o talento musical criativo de Chaplin. A letra foi adicionada à melodia somente em 1954, por John Turner e Geoffrey Parson, e fala sobre o fato de que “Se você apenas sorrir” (if youll just smile), “você descobrirá que a vida ainda vale a pena” (youll find that life is still worthwhile). Sabiamente, mais uma vez, João de Barro (Braguinha) nos deu um texto próprio, porém sem fugir do tema central da letra original: “Sorri quando a dor te torturar / E a saudade atormentar / Os teus dias tristonhos, vazios…” A primeira gravação do poema original é de Nat King Cole (ainda em 1954), e tivemos, aqui, as versões interpretadas, entre outros, por Jorge Goulart (1955), Djavan (1996), Roberto Carlos (1989 – versão em espanhol (Sonrie) de Robert Livi, aquele mesmo da Jovem Guarda) e até Fábio Jr. Novamente, talvez seja possível esquecer-se do filme, mas nunca da música…

Complementando nossa listagem de filmes cujo enredo se foi, mas cuja música ficou, apenas citaremos:

Chariots of Fire (Carruagens de Fogo – 1981) – Filme de Hugh Hudson, com temas melódicos de Vangelis;

Cinema Paradiso (Cinema Paraíso – 1988), filme de Giuseppe Tornatore, com temas melódicos de Andrea Morricone;

Evita – (Evita – 1996), filme de Alan Parker, com trilha sonora de Andrew Lloyd Werber, aquele de The Phanton of the Opera (O Fantasma da Ópera – 1986), que nos presenteou com a inesquecível Don`t cry for me, Argentina;

Singin`in the Rain (Cantando na Chuva – 1952), um clássico de Gene Kelly e Stanley
Donen, com a imortal música título, de NacioHerb Brown e Arthur Freed, cuja “dança na chuva” ficou perpetuada na mente mesmo de quem não assistiu ao filme;

La Violetera (La Violetera – 1958), filme de Luís César Amadori, cuja música título, de Eduardo Montesinos e José Padilla, com a voz de Sarita Montiel, impregnou-se no nosso
consciente emotivo;

The Woman in Red (A Dama de Vermelho – 1984), filme de Gene Wilder, cuja produção musical foi de Stevie Wonder que, entre outras belas melodias, nos premiou com a balada romântica I Just Called to Say I Love You.

Ficamos por aqui, porém, oportunamente, ainda voltaremos ao tema, pela infinitude de nossas lembranças sonoras agregadas a filmes que marcaram época.

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