Terra da cultura ou terra do ensino (parte I)

Graças a Deus a morte deu uma trégua em sua foice (pode ser até que a está amolando para poder usá-la com mais eficiência) e a gente pode tratar de outros assuntos mais pertinentes à nossa comunidade, que a homenagear e lamentar o desaparecimento de amigos. Decerto, já há algum tempo tenho a intenção de escrevinhar sobre esse tema, que de qualquer forma me é recorrente.

Por nossa cidade, se tem o costume de e chegar numa rádio ou em outros meios de comunicação, tomar um fôlego e repetir a expressão: “Cajazeiras, terra da Cultura”. Na minha humilde opinião, mas de qualquer maneira e de certa forma não destituída de validade, eu, pelo menos onde eu ando, não tenho acompanhado moimentos, nem tampouco tenho visto produções que possam alicerçar este mui honorífico título.

E poderíamos começar pela Gênese de nossa comunidade, a quem devemos tudo, inclusive nossa própria existência, o Celebérrimo Padre Mestre Inácio de Souza Rolim, que apesar de considerado e respeitado em Pernambuco, onde se ordenou, decidiu tornar à suas origens e retirar seus conterrâneos das trevas da ignorância. Feito quase ou tão heróico quanto aqueles missionários que sacrificavam suas vidas para converter os infiéis (depois do Estado Islâmico, estamos carentes desse tipo de missionário, que não tenha amor ao seu pescoço; mas fica para outra…), do obscuro desvão de uma sociedade mal educada e analfabeta. Honras e glórias. O próprio Padre Cícero, recentemente (e bem tardiamente perdoado pela Santa Madre), foi testemunha da obra pedagógica que era desenvolvida por aqui, e esta até hoje, e mais precisamente nos últimos tempos, tem evoluído e dar-nos motivos para nos orgulhar.

Agora e desde o Padre Rolim, até hoje, se a gente fizer uma análise isenta de nossos movimentos culturais, salta aos olhos, que este não tem a pujança e a desenvoltura do aspecto pedagógico. E vamos voltar ao início.  As duas obras do nosso fundador, uma é o extrato de uma gramática grega publicada no século XVII, por e com certeza vou errar: Frei Custódio de Faria (há dez anos não manuseio um exemplar), e sendo um extrato, ele foi retirado da obra completa, e não houve a chamada “criatividade”, ou coisa nova, por conta de nosso fundador. Mas como instrumento pedagógico, deve ter sido algo formidável. Posso imaginar os seus alunos a copiar este livrinho e a aprenderem nele, dentre os quais, humildemente me incluo, pois quando cursava Direito havia (e há) um livro famoso chamado de Cidade Antiga, em que existem inúmeras citações na língua de Homero, e eu aproveitando o Bicentenário de padre Rolim, e a reimpressão dessa Gramática, usei-a proveitosamente para ler esse livro. O mesmo se pode afirmar sobre as Noções de Ciência Natural, a outra obra do Padre Mestre, que era na realidade um ajuntamento do conhecimento científico de sua época, muito diferente, e não poderia ser diferente, de alguma obra de Lavoisier, Newton ou Copérnico. Não pode e nem deve haver meio de comparação, mas esse instrumento permitiu que inúmeros alunos aproveitassem aprendessem sobre essas Ciências, e as desenvolvessem (o próprio autor, em seu prefácio, faz afirmação semelhante ao que eu estou escrevendo)…

Mais para cá no século passado, temos a figura ímpar de nosso Poeta Maior, Christiano Cartaxo, meu tio-avô, poeta e um grande professor do já então famoso Colégio, mas em seu próprio livro Quarenta Sonetos, naturalmente exagerando na modéstia segundo suas próprias palavras, que reproduzo, era “um simples trovador do trovador do sertão, e não ousaria enfrentar os finos poetas das capitais e os críticos…”. Isso dito por nosso Poeta Maior.

Agora, menos conhecida e talvez tão importante quanto sua obra poética, foi sua atividade pedagógica, que vou dar um testemunho. Quando da visita à Maceió, tive contato com Dr. José Ribamar Vaz, o médico pioneiro em transplante de rim no Nordeste, que assim que soube que a gente veio de Cajazeiras para passar um tempo com seu irmão Gaubimar, velho amigo de Orós, onde ambos nasceram, ele estava à nossa espera, perguntou pelo Dr. Christiano, e me emocionou com um depoimento impressionante, que ele foi seu professor de Francês no Colégio Salesiano, e se esmerava na pronúncia, de tal modo que seus colegas alunos diziam que Dr. Cartaxo obriga a gente a fazer uns “biquinhos” para pronunciar a língua de Rousseau, e mais de uma década depois ele, quando esteve na França compreendeu a importância de todo o esmero que recebeu de seu professor, e sua pronúncia se destacava, perguntado ele disse com orgulho, que o francês aprendeu em Cajazeiras.

Eu consegui e ofertei um exemplar dos poemas de Dr. Christiano, que ele recebeu com mil agradecimentos.

Ainda vou continuar, é só o começo do assunto, que está longe de se esgotar, mas já que completei a paciência de maus parcos leitores, e deixo o restante desse trabalho cultural/pedagógico para a próxima semana.

Fico.

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