Roosevelt Leitão e suas estórias de pescador

Li de um fôlego o livro de Roosevelt Leitão, “Vou contar mais uma…”, lançado solenemente em Cajazeiras, no Espaço Cultural Eliezer Filho no último dia 21 de julho. Foi uma noite agradabilíssima, de reencontros, de abraços e muitas e sonoras gargalhadas ouvidas nas diversas rodas de conversas após o lançamento, num clima de alegria e descontração.

Mas o livro vai além do seu propósito, que era o de publicar sobre o folclore de Cajazeiras, além de outras localidades, que ao longo de décadas foi amealhando na memória, depois passou para um caderno, as “coisas” que ouvia sobre diversos personagens do cotidiano de Cajazeiras das gaiatices de nosso povo.

Ao escrever sobre fatos e personagens da cidade, muitos esquecidos e nem citados nos nossos livros de história, o autor fez um serviço de garimpagem excelente e contribuiu de forma expressiva para consagrar muitos heróis anônimos de nossa cidade, que se não fosse o desvelo e carinho em amealhar o que existia de bom no nosso folclore ia acabar no esquecimento.

Mas o que achei de muito importante no seu trabalho foi ao mesmo tempo em que faz uma narrativa gaiata ele pontua dados importantes da história da nossa urbe, ao escrever sobre a expansão da cidade e da criação de novos bairros, das avenidas e ruas centrais, pontuando com sua visão curiosa muita informações que passam muitas vezes despercebidas do nosso comum olhar.

Outro item que gostei nas narrativas do autor são os detalhes que ele nos fornece com relação às famílias que fazem parte das suas lorotas e cito como exemplo os seguintes trechos: “Lourenço Rolim, que perdeu a vida cedo, era filho de Dr. Fernando e Dona Aurília e foi casado com Dazima foi procurar o gerente do Banco do Brasil Heliodoro Portela”, ou ainda em outro “causo”: “Teresa, era arrumadeira da pensão de Dona Santa, esposa de seu Jerônimo e mãe de Nego Chico, que ficava na Rua Juvêncio Carneiro”. É essa riqueza de detalhes que torna o livro de Roosevelt muito precioso na preservação da memória de nosso cotidiano e oferta de mão beijada alguns caminhos para os que gostam de fazer pesquisa histórica, em razão dos muitos pontos de referências que facilitam no desenvolvimento do trabalho. Em todos os seus “causos” existem elos que podem ser interligados na construção de nossa história.   

O autor deixa claro em seu trabalho que se trata de “estórias” e é obvio que não houve preocupação em detalhar as datas dos fatos, a época em que foi criada a anedota, mas mesmo assim em alguns dos tópicos ele se torna um historiador, citando datas, cargos e funções, além de uma rica galeria de fotografias de sua família, fato que torna mais rico o seu trabalho e enobrece a bibliografia cajazeirense.

O livro passa a fazer parte da verve e do espírito de quanto foi prazerosa o tempo da gaiatice e da índole alegre do povo de Cajazeiras.

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