Retrocesso à vista

Com o acelerador travado e os olhos no retrovisor, os 100 dias do governo Lula patina mergulhado em um mar de incertezas na busca de um rumo. Sem ter como cumprir uma série de promessas mirabolantes de campanha, os 37 ministros de Lula batem cabeça entre idas e vindas com direito a uma pública reprimenda presidencial. Sem ter o que apresentar recicla programas sociais exitosos da sua gestão anterior (2003-2010), como o Minha Casa, Minha Vida, o Mais Médicos, e o Bolsa família e no setor de infraestrutura requenta o PAC e o Luz Para Todos.  

Claro que em 100 dias de governo em um país como o Brasil, travado pela cultura da hiperburocracia, governante nenhum pode fazer grandes coisas, mas oferece a oportunidade de sinalizar para sociedade e o mercado e a comunidade internacional qual o verdadeiro rumo a ser seguido pelo o governo.

Pelas posições adotadas nesses 100 dias deram, sim, para definir claramente que falta uma proposta inovadora, para o país avançar socialmente e economicamente. O ranço ideológico disseminado pelo partido do presidente falou mais alto levando o governo a enveredar numa postura politica arriscada de tentar barrar ou modificar conquistas da sociedade que levaram décadas para serem aprovadas pelo Congresso Nacional: paralisou os processos de privatizações e parecerias publicas privada, alterou a lei das estatais, agride o Banco Central, desfigurou o Marco Legal do Saneamento, ameaça intervir na legislação trabalhista e ainda não conseguiu sequer apresentar a nova regra fiscal que vai substituir a lei do Teto dos Gastos. A se perpetuar todos esses intentos, o Lula III entrará para história se caracterizando pela terrível marca do governo do retrocesso.

Falo de uma postura politica arriscada por considerar que Lula chega aos 100 dias de governo sem uma base parlamentar consolidada no Congresso, dependendo apenas do PT raiz e da tal frente ampla. E são exatamente esses parlamentares dessa frente ampla que votaram favorável para aprovar recentemente todas essas leis que agora serão chamados pelo governo para altera-las. Como esses parlamentares vão reagir a tudo isso? Será que a usual e nefasta pratica do STF em “rever entendimento” também vai contaminar o Congresso Nacional?

Percebe-se nitidamente que ao fim dos 100 dias acaba também a lua de mel de Lula com o Congresso, o mercado e a população. Não mais espaço para protelar tomadas de decisões difíceis.

Embora tenha avançado na área social, Lula precisa desesperadamente entregar resultados na pauta econômica para o país sair da estagnação, voltar a crescer gerando emprego e renda para os brasileiros, e não vai ganhar no grito, vai ter que negociar, e muito, para aprovar seus projetos com o recém-criado “blocão” formado por 173 deputados e 9 partidos articulados pelo todo-poderoso Arthur Lira. O Lula ainda tem muita pedra pela frente.

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