Reminiscências

SOLIDÔNIO LACERDA

No período da minha adolescência, nutria grande orgulho em saber que Cajazeiras era a terceira cidade do nosso Estado, tendo a sua frente apenas a Capital e Campina Grande. Via a minha cidade como invejável centro comercial e de importante representatividade social, o que lhe conferia merecido destaque na nossa região.

Guardo na lembrança a presença das Casas Pernambucanas, popularmente conhecidas como A Pernambucana, que sofreu um desafio de uma concorrente local. Tratava-se de “A Vencedora” de propriedade de Pedro Bezerra. A propaganda alimentava uma disputa para conhecer quem vendia mais barato. Era uma luta inglória. Os Lundgren possuíam uma cadeia de lojas, espalhadas por todo o território nacional, tendo uma retaguarda sólida, que permitia se abster de qualquer lucro. A luta culminou com Pedro Bezerra distribuindo gratuitamente, tecidos para a pobreza. O resultado foi o esperado… O povo tirou proveito. O comércio, de modo geral, sem poder acompanhar a “guerra de preços”, sofreu prejuízos devido a retração da freguesia. A Pernambucana permaneceu incólume.

O nosso comercio contava com estabelecimentos de tradição, como “A Paraibana”, fundada em 1888, pelo Cel. Joaquim Matos, que foi sucedido por Diomedes Cartaxo (Midú). Essa loja estava situada na Praça Coração de Jesus e anunciava tecidos finos com variado sortimento, chapéus, calçados, miudezas, ferragens, estivas, etc.

Na mesma praça achava-se “A Conquistadora” pertencente a Jácome, Lacerda & Cia”, que foram antecedidos pelo Cel. Lucas Moreira e Solidônio Jácome. Diziam receber semanalmente, sedas, crepes lisos e estampados, linhos para homens e mulheres, brins, voiles e tricolines, bem como, sombrinhas, perfumes dos melhores fabricantes e chapéus para homens e crianças.

Na Rua 15 de novembro 214, achava-se o suntuoso edifício, sede da “Casa Ypiranga” de Álvaro Marques, que exibia para a sua freguesia completo sortimento de tecidos nacionais e estrangeiros, perfumarias, miudezas, chapéus, calçados, louças e vidros, arames liso e farpado, ferragens e cutelarias, canos galvanizados, tintas e óleos, camas, telas, bombas para água, etc..

À Rua Padre José Thomaz 78, Timotheo Pereira estava estabelecido com a “Casa Popular”, oferecendo “preços ao alcance de todos” para sedas de todos os padrões, chapéus e calçados, perfumarias, miudezas, vidros e louças, arames liso e farpado, maquinas de costura, balanças, aparelhos sanitários, malotas, guarda sol, brinquedos infantis, camas, redes, óleo, tinta, farinha de trigo, etc. Era distribuidor de “gazolina e kerosene” da Standard Oil Company e agente do Banco Frota Gentil S.A. de Fortaleza.

Apesar de não termos maiores detalhes, não podemos deixar de referir a “Casa Moderna” (tecidos) do Maj, Francisco Rolim Sobreira e a loja de miudezas de Abdon Nabib.

As grandes usinas de algodão, eram a Santa Cecilia pertencente ao Cel. Joaquim Matos , imponente com a sua chaminé e o seu catavento. Outra, era a Cajazeiras Industrial, da firma Anderson Clayton & Cia. Ltd.

Fausto Maia, estabelecido com Representações e Conta Própria, à Rua Padre José Thomaz 52, exportava algodão e era vendedor exclusivo das máquinas Murray para beneficiamento de algodão, em todo o norte do Brasil. Era depositário de arame farpado, estopa e saco para caroço de algodão. Em Sousa, era sócio de Pires & Maia Ltd, agentes da Ford. Em Baixio (CE) era proprietário da Usina Graci que fazia beneficiamento de algodão. Posteriormente Fausto Maia foi sócio de João Batista Siqueira (Siqueirinha), na firma Maia & Siqueira, que foi sucedida por Siqueira & Carvalho e finalmente, por Carvalho & Dutra, de longa existência, tendo filiais em Patos, João Pessoa e Recife.

Naquela época, nos altos da Farmácia Cruz Vermelha, tinham representações de bicicletas NSU, de cofres, rádios e mantinham a DRC, que deu lugar a atual Radio Difusora.

Os irmãos Júlio e Emidio Barbosa, eram concessionários da Ford. Mas, quem dominava o mercado de automóveis e caminhões era, Lyra & Pinheiro, agentes da General Motors.

Lembro da chegada festiva, por via ferroviária, dos carros Chevrolet, modelo 1933, denominados Pavão 6 Os veículos foram em passeata, da Estação da R.V.C. até a Agência situada à Rua Ten. Sabino. A meninada participou da festa com muito alarido, demonstrando alegria. Eu estava lá…

SOLIDÔNIO LACERDA, MÉDICO CAJAZEIRENSE RESIDENTE NO RIO DE JANEIRO

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