Rafael Cartaxo: a volta às origens

Existe a lenda do cemitério dos elefantes, em que se acreditava que esses paquidermes quando sentiam que a hora da morte se aproximava voltavam ao local onde tinham nascido e lá morriam deixando seus preciosos marfins nesse suposto local sagrado que nunca foi encontrado.

Alguns homens, ao que parece, experimentam um processo semelhante: Depois de muitas andanças pelo mundo, por alguma razão, escolhem voltar para suas raízes para continuar alguma suposta obra inacabada, ou realizar algum sonho de infância.

Assim creio, sucedeu com José Rafael Cartaxo, filho primogênito (tinha uma irmã mais velha, Ilina) de uma referência humana extraordinária de nossa cidadã Dr. Cristiano Cartaxo; somente para citar um de seus títulos, o Poeta maior de nossa cidade.

Rafael, que ora nos deixa (faleceu ontem), foi o primeiro filho homem de Dr. Cartaxo, e cedo, segundo soube, inclusive dito pelo próprio, desde terna idade teve de sair de Cajazeiras para trabalhar. Primeiro no Exército e depois no Banco do Brasil, onde ocupou os mais diversos cargos, por todo o nordeste, com marcantes administrações, uma delas – a que mais me lembro de suas conversas – a cidade de Capela, Sergipe.  Rafael vinha muitas vezes para cá, e algumas vazes durante nossas férias escolares e era um companheiro mais experiente nas nossas farras de juventude.

Seu último local; de peregrinação foi Salvador Bahia, onde morava no bairro dos Barris, cidade onde  residem os filhos de primeiro casamento (posso estar enganado e algum não residir na Boa Terra, mas lá os encontrei).

Quando fui pela primeira vez na capital baiana, uma ocasião inesquecível foi nosso encontro no Orixás Center, em que passamos uma tarde-noite regada a chopp, e principalmente meu primeiro contato com o carnaval baiano, em que saí num bloco organizado por seus filhos que ma lembro bem Hygino e Cristiano, que a concentração era em sua casa: Os filhos de Oligo (não confundir com Gandhi). Inesquecível.

Mas retornemos ao assunto principal dessas linhas, Depois de aposentado Rafael voltou a Cajazeiras e veio a residir por algum tempo na velha casa de Tio Cartaxo a “Vila Isabel” homenagem a D. Belinha, sua mãe e veio a constituir nova família em nossa comunidade, era uma boa companhia para longas conversas.

Aconteceu, e me reservo a adentrar na perigosa área da especulação, que Cajazeiras no longo tempo em que Rafael cumpria sua peregrinação, mudou, e na ocasião de sua vinda, já não era a cidade em progresso de outrora, veio num dos períodos mais deprimentes de nossa cidade, na chegada da praga do bicudo do algodoeiro, que jogou por terra toda nossa economia baseada na agropecuária, e somente vinte anos depois, foi reconstruída, ficando como setor dominante o de serviços. Ao chegar, Rafael comprou algumas terras e tentou dar uma dinâmica pessoal a esta atividade, certamente sem o êxito desejado. Ouso afirmar que Rafael seria o homem certo na hora errada.

Mas nada disso impediu que continuássemos a ter o mesmo sentimento de amizade e respeito, de forma personalíssima, Rafael sempre foi a mesma pessoa, um Cartaxo de estirpe, e convicções inabaláveis. Tinha como tem que merecer todo nosso respeito, e para atestar isto, escrevo estas mal traças linhas em sua homenagem, que muitas mais ficamos a dever a esse primo querido que se vai.

Tanto no Banco do Brasil, como na vida: missão cumprida, Rafael.

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