A literatura que trata da história econômica do Brasil registra que nossa primeira experiência com o congelamento de preços ocorreu quando da implantação do Plano Cruzado em fevereiro de 1986. Essa informação sempre me deixou intrigado. Eu tinha lembranças de que no governo João Batista de Figueiredo teríamos vivido uma situação de controle administrativo de preços dos gêneros de primeira necessidade.
Fui então pesquisar nos jornais da época e constatei que estava com a razão. Em 19 de abril de 1979 o governo baixou portaria em que congelava pelo período de sessenta dias os preços de quarenta e um produtos, aí incluídos laticínios, carnes, derivados de milho, feijão, arroz, macarrão, café, itens de limpeza, etc. A medida visava conter a inflação que naquele ano já alcançava índice próximo dos três dígitos, o que de fato veio a acontecer em 1980. Era a forma que encontraram para diminuir um pouco o impacto do custo de vida no poder aquisitivo da população. Portanto, não fui traído pela memória.
Atingidos por um surto inflacionário preocupante, nós brasileiros que já nos acostumávamos a observar preços se elevando a cada visita ao supermercado, tivemos, pelo menos, sessenta dias de alívio na interferência do custo de vida no nosso bolso. Como não sou economista, me privarei da emissão de qualquer comentário a respeito do acerto ou não na decisão adotada pelo governo. Posso apenas dar o testemunho do sentimento vivenciado por cada um de nós naquela época, quando nos deparamos assustados com uma situação alarmante da crise econômica que apenas estava começando. Na década de oitenta a inflação alcançou números estratosféricos em torno de seiscentos por cento ao ano, e por isso foi considerada a “década perdida”.
A medida, claro, foi objeto das mais diversas análises dos políticos e economistas. O deputado paraibano Marcondes Gadelha foi um que se posicionou a respeito, declarando: “Esses choques recessionistas ocasionais mostram que o governo não está disposto a grandes mudanças e, na verdade, obedece a uma estratégia “stop-and-go” para “salvar” a lógica do modelo. O pacote poderá conter provisoriamente a alta de preços, mas não resolverá o problema da inflação que é uma doença endógena ligada à própria estrutura do sistema econômico”. Com certeza não deu certo, mas naquele momento produziu uma sensação de esperança e de alívio temporário nas nossas preocupações mais imediatas.