Operação Andaime e a eleição de 2016

A eleição de 2016 vai ser curta de dinheiro. Financiadores de campanha estão feito gato escaldado, com medo de água fria. Políticos e empresários estão de molho. Uns andam sorumbáticos. Vai ser difícil. O velho patrimonialismo – a mistura do público e do privado, recorrente na política brasileira desde sempre -, sofre um abalo enorme. Os caras misturam suas contas particulares com as da prefeitura, na hora de separar, não sabem o quanto pertence a ele e quanto é do povo. Aí, fazem como Gonzagão: “um pra mim, um pra tu, um pra mim”… Resultado, enchem os bolsos com o dinheiro público para gastar na campanha.

Na eleição de 2016 vai ser diferente.

Empresários, amigos meus, me alertam para a “retração” do mercado eleitoral. Que é isso, retração? Perguntei, fazendo-me de ingênuo. Ora, ora, quem é doido de arcar com as consequências de investigações, de correr o risco até de pegar cadeia para eleger seu fulano ou dona sicrana? Tô fora, confessou um deles, pequeno empreiteiro, adiantando que não participa mais de licitações públicas de obras de órgãos governamentais. Muito menos de prefeituras. Esse meu amigo está sofrendo o diabo para redirecionar suas atividades. Não é fácil, me disse, mas enfrenta com disposição as vicissitudes dos negócios, sobretudo nesta época de crise braba. Da sua empresa não vai sair mais nem um real, me garantiu.

Outros não querem mais integrar esquemas criminosos. A sensação de impunidade é hoje um fio de alta tensão descascado. Quem conhece a Operação Andaime, realizada no sertão da Paraíba, sabe do que falo. É verdade que ainda persistem os descrentes no funcionamento das instituições republicanas no Brasil com cara de mudança neste começo de século XXI. Até minimizam os efeitos das grandes operações como as do Mensalão e da Lava Jato, apesar do julgamento e punição de empresários, deputados, banqueiros, ex-ministros e políticos poderosos, diretor do Banco do Brasil. Agora mesmo, com o desenrolar da Lava Jato, as punições se sucedem a cada conclusão dos processos instaurados de acordo com a metodologia de trabalho da Força Tarefa composta de dezenas de delegados, procuradores, assessores especializados em crimes contra o patrimônio público. Gente poderosa, empreiteiros, doleiros, dirigentes da Petrobras e de partidos políticos já foram condenados.

O Brasil está mudando.

Não tenho em mente, porém, esses processos gigantescos. Minha preocupação hoje se volta para as coisas miúdas ao nosso redor. A Operação Andaime, por exemplo, é tão somente uma entre centenas de ações, espalhadas em todas as regiões brasileiras. Como se trata de coisa pequena, comparada ao gigantismo da Lava Jato, essas operações recebem pouca atenção da mídia. O mesmo ocorre em outros estados. Uma falha do jornalismo regional. O Ministério Público, por sua vez, deveria ajudar mais. Que tal fornecer à imprensa comunicados com o resumo das principais operações nos estados do Nordeste? Prestaria mais um serviço relevante, tornando visível o desmanche de quadrilhas de assaltantes dos cofres das prefeituras.

Quanto à Operação Andaime, aguarda-se que a Justiça e os órgãos auxiliares possam finalizar sua nobre missão, julgando e punindo os ladrões, fazendo-os devolver o fruto do roubo, colocando-os no cárcere, como o Supremo Tribunal Federal fez no Mensalão. Aí, sim é que vai faltar grana para gastar na eleição de 2016.

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