O Teco-teco, o DC-3 e o Caravan

No final dos anos 1930 para 1940, nossa cidade era um centro regional bastante adiantado; no auge do ciclo do algodão, contava com duas multinacionais, Sanbra e Anderson Clayton, mais duas algodoeiras de grande porte: J. Matos e Galdino Pires, e um comércio regional, que somente para dar um pequeno exemplo, os Gadelhas de Sousa vinham estudar na nossa Escola de Comércio e vinham comprar livros e revistas em Cajazeiras; isso, somente pinçando alguns exemplos: nossa economia era realmente pujante e a cidade demandava que houvesse um meio de transporte mais rápido do que os “Mistos” que transportavam carga e gente; (os ônibus vieram depois). Havia a ferrovia, mas era lenta e aqui era somente um ramal de Sousa.

No caso de Dr. Severino Cordeiro, genro e sócio de Galdino Pires, ele concentrava os negócios em Recife e naqueles tempos, o que dispúnhamos de orientação era dois telegramas diários que relatavam a abertura e o fechamento da bolsa de Liverpool, onde se comercializava a maior parte do algodão da América do Sul: que ia para a Inglaterra e/ou para a Alemanha.

Meu tio convenceu um dos motoristas de caminhão a fazer um curso de piloto em Recife, e comprou um Piper monomotor com três assentos: um para o piloto, e dois para os passageiros, para ele ir “pagando em fretes”, ou seja, deu um avião a Antônio Tomás, que era conhecido como Antônio Pão Doce, que sempre comia esse tipo de pão nas paradas de seu misto e foi um salto estratosférico: de motorista de caminhão a piloto de avião. E como esse tipo de transporte era muito procurado por aqui (ainda o é) ele fazia táxi aéreo para Recife, João Pessoa e Campina Grande.

Depois, com o fim da Segunda Guerra, ficaram sobrando os aviões DC-3, que levaram os paraquedistas americanos para o Dia “D”, de 20 lugares, movidos com dois potentes motores e alta autonomia de voo, e a Real Aero Linhas, tinha uma linha que saia de Recife e terminava em São Luiz, pousando em diversas cidades do interior do Nordeste e no outro dia voltava. Eu andei muito nessa linha, que depois foi adquirida pela Varig.

Mas vieram as rodovias asfaltadas e os ônibus mais modernos e esses aviões consumiam muito combustível, então, por esse e outros muitos fatores, essa linha foi suprimida e passamos a depender dos “corujões”, que demandam uma noite de Cajazeiras para nossa Capital.

Posteriormente, nosso aeroporto teve sua homologação cassada pelo DAC, por não contar com as condições exigidas para um aeroporto comercial. Cajazeiras muito perdeu com isso.

Agora, depois de uma longa luta tanto do governo, quanto de determinadas partes de nossa população, finalmente vamos, depois de quase 60 anos, ter voos comerciais regulares pousando em Cajazeiras. Cito dois nomes, o falecido Coronel Chaves e Alexandre Costa, deixando muitos outros de fora; foi uma obra conjunta, que esperamos, bem sucedida.

Mas vem o papel descredenciador dos descontentes, os que andavam a pé, agora querem um sapato de grife: “Cajazeiras vai ter um Teco-teco fazendo a linha”. Então o que vocês queriam? Um Boeing 747 com seus 400 lugares? A região não comporta, nem a pista está em condições de receber esse tipo de avião, ainda não se tem o número de passageiros para essa linha, que vai para Recife e de lá se fazem as conexões para todo o Brasil.

Tenho um exemplo pessoal: quando da inauguração do Teresina Shopping, Gutemberg Cardoso que nunca perde uma oportunidade, pediu a João Claudino para nos deixar em Fortaleza. Nós embarcamos num modelo exatamente igual ao que vai fazer a linha que a Azul está propondo para cá. Vejam bem, entre duas capitais, e com escala em Sobral, onde conheci o Cid Gomes, atual ministro.

Cajazeiras é maior que essas duas cidades? O Cesna Caravan é um dos aviões mais seguros do mundo e como é um monomotor, o gasto com combustível é menor, o que diminui o custo do voo, mesmo que nosso destino seja João Pessoa, vamos pegar o metrô do aeroporto para a Rodoviária de Recife e em duas horas estamos em Jampa, em vez de ficarmos uma noite inteira balançando nesses ônibus. Meus 67 anos agradecem.

P.S. – Li e me deliciei com dois trabalhos de dois membros da nossa ACAL: o livro “AS PEDRAS DO MEU CAMINHO”, de Chagas Amaro, em que ele conta sua trajetória de pobre, negro e de certa forma, imigrante, até alçar alguns dos maiores cargos de nossa cidade, exemplo de superação, e resiliência, que deveria ser adotado em nossas escolas que dão tão pouco valor às coisas conquistadas, pois têm tudo nas mãos, e o livro “REVOLUCIONÁRIAS”, de Rui Leitão, que conta a história de nossas heroínas tão pouco reconhecidas pelo fato de serem mulheres, inclui, entre elas, minha mãe, que também deve ser lido para que se dê o valor devido a essas heroínas na maioria das vezes esquecidas ou relegadas a um lugar secundário em nossa sociedade. Trabalhos acadêmicos de membros de nossa Academia.

1 comentário
  1. Eu respeito a visão e o comentário do amigo mas descordo em parte, olha naquela época que o amigo fala das linhas aéreas através da VARIG, com um Avião DC-3, mais o amigo tem que ter uma pequena diferença, meu amigo o velho DC-3 que transportou muitos sertanejos de Cajazeiras para o mundo, olha DC-3 tinha capacidade para 30 passageiros tinha banheiro, tinha atendimento das aeromoças tinha muito conforto, já o Cesna Caravan tem capacidade apenas para nove passageiros, não tem banheiro e nem serviço abordo como lanhes e sucos e refrigerantes, Portanto uma aeronave o Cesna Caravam não tem o principal que é importante em uma aeronave do setor de linha comercial, o amigo já pensou se um passageiro com problemas intestinal numa viajem de Cajazeiras para recife. discordo também do amigo sobre a capacidade da pista do nosso aeroporto, olha a classificação do PCN do nosso aeroporto é de 26, para o amigo ter uma pequena ideia da capacidade do nosso aeroporto receber aeronave de médio e ate grande porte, por exemplo um ATR 600 que tem capacidade para 72 passageiros que para mim seria a melhor aeronave para iniciar essa rota Cajazeiras Recife, veja bem esse ATR 600 ele precisa para decolar a aterrissar com segurança uma pista com o PCN de 12 o nosso aeroporto a pista tem 26, mais do dobro da capacidade que o ATR 600 precisa para funcionar em nosso aeroporto, outro tipo de aeronave que pode tranquilamente receber um Embraer 195, mas concordo que o BOEING 747 não pode fazer linhas para Cajazeiras nem ate mesmo Juazeiro do norte pois o mesmo precisa de uma pista de 2.500 metros para sua operacionalização.

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