O perplexo e poderoso mundo das margaridas

Toda a tecnologia das últimas gerações não consegue beijar o chinelo da vaidade humana. Ou será que é o próprio homem, o criador da tecnologia, que, envaidecido por ela, não sabe administrá-la?

Na verdade, computadores de mil utilidades, do tamanho de um botão, não respondem a tantas questões que sobrevoam algumas cabeças-de-vento: do bom vento pensante… Aviões supersônicos que carregam quinhentos passageiros, banheiros portáteis, enciclopédias de bolso e outras geringonças continuam comprovando a eficácia tecnológica e continuam demonstrando a nossa inteligência. Bueno!

Mas quanto temos que pagar por tantos inventos miraculosos? Afinal de contas, amigo leitor, como eram os seus avós? Aposto que eles estão perplexos, assim como os nossos filhos irão ficar.  Somos frutos de uma perplexidade em forma de evolução. Enquanto isso, a oposição e a situação se defrontam em guerrilhas de faces feudais, engravatando conceitos pré-históricos, culpando o povo que fica no meio, de lado ou embaixo da disputa.

O período ditatorial brasileiro exibiu, orgulhoso, uma luta homérica: esquerda, direita, centro-esquerda, centro-direita, centro-centro e claro, o glamouroso Exército. Morríamos de medo e éramos obrigados, nós, como imprensa, a dizer monossílabos, pois, do contrário, iríamos conhecer países como Inglaterra, Itália, Guatemala, Índia, Áustria… O país, como um bom pai autoritário, dizia:

-Só volte quando eu mandar!

E se a sorte nos encontrasse, talvez fôssemos parar no cemitério, do contrário, em terrenos baldios mesmo… Naquela época, também éramos perplexos e assombrados com os avanços tecnológicos, mas não podíamos nem comemorar… Assistíamos nas salas, nas calçadas, nas praças a um festival de correntes de pensamento, a fogos de artifício verbais girando em torno do trono. O nosso presidente atual era o nosso mentor lierário, o nosso modelo de pensador, o nosso ideólogo-padrão. Hoje, a sua ideologia é emprestada a bancos e banqueiros, e frustrante para os que, um dia, nela se espelharam. E continuamos perplexos. Televisão a cores, a controle remoto, com mais de cem canais? Não quero, não posso, não devo.

-Mas, pensando bem… em quantas prestações, moço?

A contemporaneidade da tecnologia é vendida às facções políticas, que nos vendem pelo dobro da nossa fome, da nossa vergonha, do nosso desemprego, da nossa falta de terras… Tudo isso no berço de um país que sustenta os seus feudos com migalhas, enquanto os súditos e o Rei pairam, espetaculares, sobre uma terra não prometida. Mas a política não tem periferia. Escolha: canhoto, destro ou central. Quando não se tem muita coragem para assumir (talvez nem dinheiro suficiente), é possível brincar com todos, misturar as idéias, as pessoas, os lucros, os empregos…

Quando o assunto é poder, não adianta ter levantado bandeiras e bandeiras de partidos tais ou quais, a, b, c, p, t… Quando o poder finalmente acontece, toda a ideologia é esquecida para ceder lugar a um comboio de providências, iniciativas, projetos, deliberações… E ouvimos frases cavernosas:

-Parente é parente e tem que empregar todo mundo… 

-Cidade tal, eis as melhorias que fizemos com o dinheiro do seu IPTU…

-Ah… Não podemos ficar contra Fulano.

Não me chamem de cética. Tenho esperanças sim, claro. Ainda vou comprar minha tevê a cabo. E falar das margaridas.

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