O nosso teatro

ÍRACLES BROCOS PIRES

Um político pernambucano, certa vez, definiu Cajazeiras como “uma cidade que já teve o seu apogeu, mas que ainda hoje teima em fazer teatro”. É uma verdade: Cajazeiras teima em fazer teatro. Deus sabe como, mas faz teatro e teatro sério. É claro que não deixa de ser mambembe, improvisado, amador antes de tudo, mas, o que faz, não tem medo de mostrar.

São vários grupos – TAC, Grutac, Metac, Notac, todos filhos do Teatro de Amadores de Cajazeiras, fundado por Hildebrando Assis, o qual inculcou bem fundo na juventude do seu tempo o gosto pela arte de representar. Essa juventude foi passando para as que se sucederam e o resultado é que nunca tivemos um período grande em nossa cidade sem que alguém trabalhasse em cena.

Com que sacrifício se faz isso em minha cidade, somente nós sabemos. Começa que não dispomos de peças com facilidade. Os textos que o SNT nos envia são os mesmos inaproveitados pela maioria dos grupos teatrais do país. Este problema, entretanto, é superado pela criatividade dos nossos poetas, que, vez, por outra, estão fornecendo material, o qual, burilado pelo próprio grupo, dá oportunidade de encenação.

Artistas não faltam. Aliás, alguém já disse que Cajazeiras nunca vai poder fazer um filme de faroeste porque aqui não tem bandido, só tem artistas. Os grupos são repletos e todo dia alguém mais solicita vaga. E temos encontrado bons figurantes que sabem dar o seu recado no palco. Claro que dá trabalho preparar um ator, mas com um pouco de conhecimento e muita paciência, chega-se a um final feliz.

Mas as dificuldades não param aí. Onde ensaiar? Os clubes oferecem seus salões, mas cobram o que se gasta de luz e água. Os colégios estão sempre ocupados; com muito custo cedem alguma sala, mas assim mesmo reclamando do barulho. Os cinemas só emprestam suas instalações depois de terminada a última sessão. Dentro dessa e de outras condições, consegue-se ensaiar as peças.

Vamos à montagem. Aí é que a coisa redobra. Onde achar dinheiro ou financiamento para a representação? O comércio não confia. A prefeitura sempre dá uma pequena ajuda, mas tão pouco que só serve para começar. Parte-se para pedir o material emprestado. O vestuário é dos elegantes nossos amigos. Os móveis dos conhecidos. A iluminação geralmente aproveita-se as lâmpadas do cemitério: os rapazes do grupo pulam o muro e, já viu. Afinal, defunto pode ficar no escuro. Quanto ao som improvisa-se com o auxílio das duas emissoras.

Mas agora é que chegou o pior. Onde encenar? A biblioteca é pequena. Os cinemas estão ocupados ou custa caro o aluguel. Os clubes não tem instalações. O resultado é que depois de tanto trabalho a peça vai voltar para a gaveta. Para não acontecer isso, improvisa-se um praticável em qualquer lugar, até mesmo na rua, e trabalha-se. Faz-se teatro. E isso é importante.

Estou vendo nos jornais que o deputado Edme Tavares pede na Assembleia uma casa de espetáculos para Cajazeiras. É um dos primeiros passos; já temos o terreno. Claro que já demos os primeiros passos: já temos o terreno, o projeto arquitetônico, e o Governador (Ivan Bichara) é nosso. Em seu tempo, também já foi artista. Está faltando apenas um empurrão.

Colegas da classe teatral, ajudem-no. Colônia cajazeirense de João Pessoa, demo-nos as mãos como somente nós sabemos fazer quando precisamos de algo para nossa terra. A capital tem o Santa Rosa, Campina o Severino Cabral, Alagoa Grande o Santa Inês, não faria mal se Cajazeiras tivesse o Ivan Bichara. Além de ser a realização do nosso sonho, seria a imortalidade para seu filho.

ÍRACLES PIRES FOI ATRIZ E DIRETORA TEATRAL, RADIALISTA, ANIMADORA E GESTORA CULTURAL (PUBLICADO EM 17/03/1977)

FOTO DO BLOG “CAJAZEIRAS DE AMOR”

CORREIO DAS ARTES – ANO LXIV – Nº 7 – SETEMBRO/2013

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