Juvêncio Carneiro e sua trágica estória de amor

Alguns amigos, conterrâneos e contemporâneos, me têm procurado, solicitando rememorar algumas estórias ocorridas em nossa terra, num passado mais ou menos recente. O fato é que, muitas vezes, muito nos cobram e pouco nos falam dessas estórias que vão caindo no esquecimento, mas que permanecem no domínio público ou no inconsciente coletivo.

Juvêncio Vieira Carneiro (1874 – 1944) era filho de José Vieira Carneiro, conhecido na terra onde aquele nasceu – Riacho dos Cavalos – como Zé Mago, e pertencia ao tronco genealógico de origem pombalense, que nos deu políticos atuantes na Paraíba e – por que não dizer? – no Brasil: Rui, Janduhy e Alcides. Juvêncio era tio de Rui e de Janduhy.

Chegou a Cajazeiras ainda muito jovem e, idealista,  passou a integrar-se mais firmemente à nossa sociedade após o casamento com Francisca Bezerra Carneiro, irmã da professora Vitória Bezerra, constituindo daí sua prole.

Estabeleceu-se na cidade com um próspero comércio de tecidos, com ramificações e contatos diretos com Recife e Fortaleza. Para a época, podia-se dizer que era um homem rico. Além do mais, pela sua simpatia, conquistou muitas amizades e, graças a isso, integrou-se ao Legislativo Municipal, tendo exercido, por muitos anos, o cargo de presidente do Conselho Municipal (antiga denominação da Câmara de Vereadores).

No final do ano 1928 e começo de 1929, como presidente do referido Conselho, chegou a exercer a função de prefeito interino, em substituição do Cel. Sabino Rolim, até a posse do novo prefeito, o professor Hildebrando Leal. Posteriormente, quando o Estado da Paraíba teve como interventor seu sobrinho Rui Carneiro, este indicado pelo Presidente Getúlio Vargas, foi alçado ao cargo de Prefeito Municipal (gestão 1941/1944).

Simpático, afável e homem de fazer boas amizades, ele organizou – juntamente com o seu sobrinho Antônio Carneiro, apelidado de Antônio Quincas, este filho do conhecido Joaquim Carneiro, alcunhado de Moço Quincas, tio do saudoso Eunápio Carneiro – um dos primeiros times de futebol de Cajazeiras, o Pitágoras Futebol Clube, cuja sede se localizava no casarão da família, onde posteriormente residiu Mestre André, pai do meu amigo dos Correios e Telégrafos, ex-vereador Antônio Ferreira, que foi casado com Maria Erenice Ferreira, ambos de saudosa amizade e memória.

Mestre André, que era sogro de dona Regina, abrigou-a, já viúva e mãe dos meus amigos José Renato, José Renê, José Reinaldo e Socorro Lima, no antigo casarão, que continua incólume na rua antigamente cognominada de Beco do Comércio (1890), depois chamada de Rua Vidal de Negreiros e, mais recentemente, recebeu seu nome, Rua Juvêncio Carneiro, rua que, ainda hoje, se estende desde aquele famoso beco estreito, onde se localizava a farmácia de Aldo Matos e muitas outras casas comerciais, até a linha férrea terminal da estação da Rede Ferroviária Cearense – RVC. Todos os parentes e aderentes dos Carneiro, inclusive Rui, Janduhy e Alcides sempre se hospedavam naquele casarão, quando iam à nossa terra.

Agora é que vem a estória que me estão a cobrar: Juvêncio era um homem simpático, dado a “namoros públicos e privados”. Pois não é que, já viúvo, manteve um caso de “amizade colorida” com uma famosa cortesã de nome Birica, em cujos braços e carinhos veio a falecer, após o almoço, em dia de junho de 1944, em pleno exercício do cargo de Prefeito Municipal.

Dizem que morreu “amando”, de uma “congestão cerebral”, e nada mais se diz e nem se pergunta, pois o assunto, na minha infância, era proibido, dele restando apenas alguns “disse-me-disse”.

A veracidade desses fatos me fora confirmada por um amigo, cujo nome me reservo o direito de não mencionar, e que, num meio-dia posterior ao dia do desenlace, ao retornar das aulas no Colégio Salesiano, juntamente com os seus colegas, chegou a ver o velório de Juvêncio, ali, no mesmo casarão que lhe serviu de lar e que assistiu ao seu último ato…

Na minha infância, cheguei a conhecer Birica, já ligada a João Lé, e mãe do meu amigo de peladas futebolísticas, Gérson de Birica, residentes no início da Rua Siqueira Campos.

Tentei, apenas, pagar a promessa de contar essa estória a amigos que me cobraram. E, se alguém souber mais detalhes, estarei pronto a ouvi-los para ratificar ou retificar alguma coisa do que eu tenha escrito. E não se fala mais nisso!…

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