O fim do Feitiço

E agora, José? Indagou o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade em seu clássico poema José. É uma interrogação angustiante. Como se não tivesse saída.

A música e a literatura mineira cativam amantes da cultura, como também sua gastronomia (lembrei-me do restaurante Mineirinho que frequento no Bessa, em João Pessoa). E quando se alia essa música à culinária, aí Minas desponta mais ainda.

Pois foi a junção da canção e comida que Brasília desfrutou por trinta e dois anos do bar e restaurante Feitiço Mineiro, fechado recentemente em decorrência da crise pandêmica que assolou o comércio nacional. Era um bar e restaurante que valorizava a música, tanto nacional quanto local.

Por lá passaram, naturalmente, os mineiros Lô Borges, Beto Guedes, Flávio Venturini, Fernando Brant, Tavinho Moura, Toninho Horta e Wagner Tiso. Nomes nacionais como Nei Lopes, Dona Ivone Lara, Diogo Nogueira, Mart’nália, Teresa Cristina, Casuarina, Baden Powell, Guinga, Jards Macalé e tantos outros. E muita prata da casa, como a trinca de irmãos Clodo-Clésio-Climério (compositores parceiros de Fagner), Dhi Ribeiro e, especialmente, para nós cajazeirenses, os Bembens. Isso mesmo, os Bembens (formado por músicos cajazeirenses residentes em Brasília) se apresentaram várias vezes por lá.

Trinta e dois anos de história de boemia para um bar fechar de repente, é um baque para muitos fígados que gozaram e felicitaram muito a vida. Fico imaginando se o histórico Bar do Décio, de minha Cajazeiras-PB, de repente fechasse. Seria um problema de saúde pública, pois muitos boêmios passariam por traumas psico-físico-social. O que seria para Cristiano Moura, Darlan, Lacy, Erivan, Pantera, Ferrerinha, Pepé Pires, Alberto da Construcenter, e mais uma infinidade de figuraças da cidade.

Sem contar que, se soubéssemos com antecedência do fechamento de um dos bares mais badalados de Cajazeiras, no dia seguinte eu, mais Eriston, João Robson, Carlos Doido, Marx e outros cajazeirenses da gema, estaríamos decolando de Brasília para Cajazeiras para as festividades de encerramento. De João Pessoa a carreata seria maior com Dirceu Galvão, Carlos de Yoyo, Lenival, Baiaco, Rogério Ricarte, Sales Fernandes, Beto Montenegro, Josival Pereira e mais uma ruma de gente do bem de bar.

A realidade é que o Feitiço Mineiro fechou. Não há mais bar das Minas. O bar do Décio continua de portas abertas resistindo a qualquer pandemia. Frequentadores dessas igrejas entendem poeticamente que: “um copo vazio está cheio de ar”. Lá em Décio, escancaradamente, está cheio da marvada.

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