Zenildo Alcântara, o locutor

Desde muito cedo, com a morte de certa forma prematura do pai, Zé (José) Alcântara, Zenildo foi morar com o avô paterno, o conhecido Seu Alcântara, próspero comerciante com estabelecimento comercial na conhecida Rua da Tamarina.

Do avô, residente nos anos 40/50 na Rua Sebastião Bandeira (a já folclórica Rua dos Dez Chalés), sabe-se que, deixando a atividade comercial, dedicou-se ao cargo para o qual foi nomeado: Inspetor de Polícia, cargo de influência política e social na cidade.

O pai de Zenildo era um exímio saxofonista. Também pudera! Concunhado de Esmerindo Cabrinha, sempre o acompanhou nas chamadas atividades musicais, o que, certamente, levou aquele ao costume de tomar “umas e outras”, como era hábito na época.

A mãe de Zenildo, já viúva, tendo que assumir um emprego público em município vizinho, teve que confiar a guarda e criação do filho ao avô. Ao lado do avô, foi Eudoro Portela de Melo, gerente do Banco do Brasil, na época, que, afeiçoando-se do garoto, contratou-o como servente da aludida casa bancária, embora Zenildo houvesse abandonado os estudos no antigo 4º ano primário, provavelmente o Grêmio Artístico já que este era próximo do seu domicílio.

Embora com pouca formação escolar, Zenildo sempre foi “muito vivo”, o que fez com que fosse aprovado em concurso interno, patrocinado pelo Banco do Brasil – Agência de Cajazeiras. Embora não cultivasse o costume de fumar, o já adolescente Zenildo nunca desprezou o antigo hábito do pai, fato que o conduziu, como se dizia na época, a ser reprovado no exame de saúde para ser efetivado na função para a qual havia sido aprovado (com perdão do trocadilho).

É quando Eudoro, afeiçoado do jovem, patrocinou o seu tratamento, levando-o a passar um ano nos estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, em busca de uma melhoria no seu estado de saúde. Retorna, então, Zenildo a Cajazeiras, mas, inconstante no cumprimento de “dietas” recomendadas, não retornou mais às suas atividades bancárias.

Entretanto, sua estrela radiofônica já começava a brilhar, sempre com atuação nos serviços locais de alto-falantes. Assim é que foi contratado como propagandista e locutor oficial da loja A Pernambucana, por seu mérito e pela confiança que nele depositava o “Seu” Leitão, então gerente daquela casa comercial. Cativou também a simpatia de Raimundo Ferreira que fez dele o locutor oficial da célebre campanha à Prefeitura da cidade. Era o tempo do bordão: “Tá? Tô! Com Raimundo e o doutor!” (Mas, aí já será outra estória.)

Dos microfones da DRC – Difusora Rádio Cajazeiras (ainda serviços de alto-falantes), onde conduzia programas musicais e futebolísticos ao lado de Dedé do Banco do Brasil, Antônio Augusto de Albuquerque (o Pinguim), Tarciso Telino, Luís Gonçalves Dias (Luís de Zezu), Aécio Diniz (depois, expressão maior das emissoras associadas em Campina Grande, João Pessoa e no Nordeste), entre outros, Zenildo chega ao cargo de noticiarista e locutor esportivo, antes da Rádio Difusora e depois da Alto Piranhas.

Foi nesses momentos que me tornei mais próximo dele, levando daquela para esta emissora. Era como uma espécie de meu escudeiro, apresentando os noticiários radiofônicos – Repórter Carvatra, na primeira – e Correspondente Willys, na segunda. Bons tempos! Pelo menos numa coisa posso dizer que o ajudei: tanto numa como noutra emissora, não lhe dava tréguas: ele tinha que apresentar os noticiários de hora em hora, não lhe sobrava tempo para as pequenas atividades etílicas. Aos sábados, sim, algumas vezes ele me aprontava… Eu tinha que substituí-lo na apresentação dos noticiários.

Exímio locutor esportivo, ensaiei trazê-lo e apresentá-lo ao departamento esportivo da Radio Tabajara, então dirigida pelos irmãos, meus amigos, Carlos Roberto e Roberto Carlos de Oliveira. Não vingou a minha pretensão, uma vez que, por “algum motivo”, ele não compareceu à transmissão de um clássico no Almeidão. Era por volta dos anos 1969/1970, quando, segundo ele, por saudade, retorna a Cajazeiras.

Daí pra frente não voltei a vê-lo, mas, posso afirmar, a nossa cidade será sempre reconhecida a um dos pioneiros de nossa radiofonia. Tenho notícias da existência dos seus três filhos – Sharley, Franceshirley e Shirley.

No final de sua vida, separado da esposa e já com o estado de saúde agravado, Zenildo foi residir com a sua tia e irmã de criação Miduzinha, filha do avô Seu Alcântara, que sempre o assistiu até o seu desenlace ao que sei, na Rua Tiburtino Cartaxo, artéria paralela à rua Engenheiro Coelho Sobrinho (Dr. Coelho), ambiente por que ele costumava transitar na sua infância.

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