O celeiro do mundo passando fome

O Brasil é apontado como o “celeiro do mundo” em alimentação, ou, pelo menos, com potencial agrícola para que isso realmente se evidencie. Temos capacidade para alimentar o planeta. Todavia, trinta e três milhões de brasileiros estão passando fome. E não me venham argumentar que essa situação foi causada pela pandemia. É inegável que contribuiu para o agravamento da crise. Porém, o que se mostra é a incompetência administrativa para enfrentar o problema. Ou talvez a falta de vontade política para combater a miséria e a desigualdade social em nosso país.

Mais da metade da população brasileira passa por algum nível de insegurança alimentar, enquanto o agronegócio aumenta seus lucros a cada ano. O mercado interno, no entanto, não é abastecido pela produção agrícola crescente, por conta da decisão em privilegiar a exportação. É urgente que sejam pautadas políticas de controle dos estoques do agronegócio para distribuição massiva entre a população. O que produzimos é suficiente para alimentar um bilhão de pessoas e nossa população não chega a duzentos e cinquenta milhões de habitantes. Como explicar que tenhamos tantos compatriotas passando fome?

A tragédia que estamos vivendo agora, não é, então, por falta de comida. Numa economia parada aumenta a insegurança alimentar. Lamentavelmente assistimos boa parte das famílias brasileiras dependendo da mobilização social para fazerem suas refeições diárias. A demanda por ajuda vem aumentando assustadoramente. Muita gente se vê, sem alternativas, e recorre ao lixo para se alimentar, nos mostrando imagens dramáticas.

O Estado tem que ser atuante no combate à fome, adotando políticas públicas direcionadas à alimentação popular. O direito à comida é constitucional. Mas a nossa Constituição experimenta uma fase de total desrespeito aos seus preceitos. Não há uma preocupação em estabelecer uma política macroeconômica que priorize a produção para o mercado brasileiro. Por consequência, pobres estão virando miseráveis e famintos. Apesar de sermos o segundo maior exportador de alimentos do mundo.

A verdade que não pode ser ignorada é que fomos atingidos pelo desmonte sistemático e deliberado de políticas sociais, inclusive as básicas de segurança alimentar. O que a sociedade civil está esperando para agir? Quem tem fome não pode esperar. Nós que contamos com o conforto da garantia de termos as três refeições ao dia, somos também responsáveis por tudo isso. Precisamos mudar esse cenário. Não há justificativa para que um dos maiores celeiros do mundo não consiga alimentar seu próprio povo. Algo tem que ser feito. E urgentemente.

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