Nossas evocações (parte I)

Nesse Carnaval de 2016, o homenageado na Praça do Frevo foi Timbu (nunca perguntei seu nome verdadeiro, e nem ao caso). Uma justíssima homenagem em vida a um dos maiores cantores, seja de carnaval ou não, que nossa terra produziu. Agora, quem conheceu o próprio, e onde ele se apresentava, e as circunstâncias da época, os anos 50 – 60 -70, eu pelo menos fiquei muitíssimo triste. Ele sem os membros inferiores, que a diabetes levou, mas ainda com a mesma voz.

Agora, caro leitor, quem viveu a época de ouro de nossas orquestras, a Chaveron de Zeilto Trajano, e mais ainda, a Manaíra de Mozart Assis, frente a pobreza de hoje, e ainda a inversão de valores,que se percebe quando se consegue atravessar a cacofonia dos paredões de som da Praça dos Blocos, fica procurando como chegamos a isso, e onde vamos parar.

Então vamos ver alguma coisa do passado. Na década de 70, quando eu fui estudar em Recife, assisti a um resgate e consagração tardia, mais motivada pela tradição pernambucana, de Nélson Ferreira, que acho que completava oitenta anos naquele tempo, e vi pela televisão de uma interessantíssima entrevista desse maestro, em que ele falava da composição de seu frevo mais conhecido a “Evocação Nº 6”, que eu interessado, vim a conhecer e decorar sua dificílima letra: “Felinto, Pedro Salgado/ Guilherme Fenelon/ cadê teus blocos famosos/…”, e por ai ia, o maestro, naquela entrevista se admirava se como o povo conseguiu decorar todos aqueles nomes. De volta a Cajazeiras, com o frevo decorado, vi que aqui, quase todo mundo também sabia de cor (minha mãe, e muito mais gente) tinha aquela letra decorada, pois era executada pela Orquestra Manaíra, e cantada por seus cantores (hoje crooners), na época, Timbu e Eurivo Nonato. A cultura musical do frevo existia, e era popular.

Então vamos tentar apresentar minhas Evocações, e como não tenho pendores para músico, vai em prosa; a maior parte dela eu presenciei.

O carnaval no Tênis Clube começava no Revellion, segundo me contaram, pois essa festa nos tempos da Orquestra Manaíra (era a orquestra “oficial” do clube), se tocava musica, digamos, “normal” até meia-noite, e depois, se tocava carnaval até amanhecer o dia, festejando o Ano Novo, com as músicas do carnaval passado segundo me contaram. Então, e essa parte eu vivenciei, nas noites de segundas, quartas e sextas depois do Reveillion, haviam os “ensaios de carnaval”, em que os componentes ensaiavam as novas partituras e tinha espaço para que os que estivessem presentes ao Tênis, ensaiássemos e aprendêssemos os passos de carnaval e os difíceis passos do frevo. Às vezes era mais divertido que o próprio Carnaval, a gente ficava fazendo trenzinho em volta do salão a combinavam-se a formação de blocos. A Orquestra Manaíra, tinha como maestro Mozart Assis, e contava com Esmerino Cabrinha no Sax e seu irmão Milton tocando piston, além do futuro Maestro Rivaldo Santana no trombone de vara, e ainda Nego Barrufa no pandeiro. No Carnaval, haviam as “matinais”, onde os meninos como eu, iam.. Tirar o Stress, como se diz hoje, e à noite eram os Bailes para era nossos pais. Um ponto alto era a saída da orquestra na Quarta Feira de Cinzas, do clube até a Praça da Prefeitura, como dizia a letra do Frevo da Quarta Feira: ”De fazer chorar”…

Depois, com a extinção da Orquestra Manaíra (esse dava um show à parte), esta foi sucedida, pela Orquestra Chaveron de Zeilto, que aproveitou grande parte desses componentes, inclusive com Humberto de Seu Nô no sax tenor, Valdemar e o atual maestro Dedé. Lembro que Zeilto que era diretor da Rádio Alto Piranhas junto com minha mãe, e ambos locutores, ele escrevia parte das partituras à noite, lá em casa, quando se encontrava com minha mãe e ambos tomavam seus Whisky. Lembro me que Zeilton me dizia que o futuro do carnaval não estava mais no frevo pernambucano, mas na Bahia, isso em meados da Década de 70, uns dez anos antes do primeiro trio aparecer por essas bandas. Ele tinha cultura musical, hoje esta está mais rara. Maestro Rivaldo tinha o chamado “ouvido absoluto”, escrevia uma partitura para todos os instrumentos ao ouvir uma música tocando um disco, era e até hoje é de se admirar.

Essa era a geração onde Timbu se formou, e a hoje pobre banda da praça do frevo me fazem vir as lembranças. E muitas, mais muitas mesmo, saudades.

Agora, a gente podia resgatar a Banda Santa Cecília, como se conseguiu formar a Orquestra de Câmara. Os Timbus, os Eiruvos os Rivaldos precisam de terem sucessores, e esses não estão sendo formados.

Hoje ainda é possível, mas daqui a uma década, podem não haverem professores…

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