Nome aos bius

Severino Silva da Silva era auxiliar-adjunto do ajudante do pedreiro. Seu Biu, mestre de obras, tinha paciência com todos, especialmente com Biu. O ajudante se chamava Biu. Ah, e o pedreiro também era Biu. Todos os quatro trabalhavam na construção de um açougue, cujo proprietário era o Senhor Severino (mas que já havia sido Biu durante os seus primeiros dez anos de vida).

O primeiro Biu, o Silva da Silva, era solteiro, doido para se casar. Namorava com Noca, que morava sozinha numa casa ampla, com um jardim imenso e com as janelas pintadas de verde-oliva. Todos os dias, os três amigos de Biu – a convite exclusivamente dele – iam almoçar na casa de Noca. Seu Biu comia pouco, era amarelado, usava sempre um boné de uma loja de ferragens e fumava Amigo. Os Bius é que eram gulosos, todos, todos. O ajudante era gordíssimo, nunca usava camisa ensacada e tinha as unhas encravadas. O pedreiro pesava 98, usava calção de napa de time de futebol de grupo cê, conservava uma barba preta enlinhada e um palitinho na boca. Mas Biu Silva da Silva era esbelto, corpo conservado, cabelo cortado, dente alvo e tênis no pé. Queria se casar com Noca rápido, antes que o galo cantasse, mas a danada era banqueira: “Só caso no Dia de Santo Antônio”.

Tudo bem. Compraram as coisas.

“Êita, que a festa vai ser boa!”, gritava Seu Biu, a toda hora. “Vamos matar um bode, Biu”.

Passaram-se alguns meses e, enfim, chega o dia treze de junho, dedicado ao santo. O padre abençoa, aplausos do público, “felizes para sempre” e pá, rá, rá. Fizeram festa, claro, na casa de Noca; foi lá também onde morou o casal até que… Até (e isso não ia nem entrar na estória) o dia de um gringo chegar na cidade: um tal de Michael Tumbling, ex-Seveurinou, portanto ex-Bêu, dono de uma construtora norte-americana.

“Keurêmos cauntrâtar vozês”, falava Michael. “Trizentoz rêais por zimana”.

Uau. Os quatro ficaram se lambendo: era dinheiro demais, meu Deus. Seu Biu não quis ir, ficou esperando o resultado de tudo aquilo. E foram os Bius. O Silva da Silva, morto de satisfeito, ia começar uma nova vida, ao lado de sua Noquinha.

Trabalharam, trabalharam. Três, quatro, cinco anos. Oito anos depois, um carrão chega na praça, carregado de badulaques eletrônicos, roupas, brinquedos, comidas encaixotadas e enlatadas: tudo para ser distribuído entre os amigos. Os dois Bius estavam lá, felizes, sorridentes, azuis e um tanto gringos também. Mas, e o casal?

“Cadê Biu e Noca?”, perguntavam os conhecidos.

Noutro carro, de repente, chegam os dois. Um bêbado, chamado Biuzin, que se encostava no pára-choques, deu uma espiada para saber se eram eles, realmente. Eram. Eram eles: agora, Bill e Joaquine, e esta, mais precisamente, Djô.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Publicações relacionadas
CLIQUE E LEIA

Semana Santa

A chuva volta em plena Quaresma e, na Semana Santa, a tradição sertaneja de ter feijão verde, maxixe,…
CLIQUE E LEIA

Ao turista

Aqui, moço, dormia uma onça – não sei se pintada. Chamam este lugar de furna; se fosse um…
CLIQUE E LEIA

Vendedores de manga

As mangueiras recebem folhas e flores novas. Vingas de frutos já surgem em quintais, ruas, praças e parques,…
Total
0
Share