Minha US Top

Se meu senso prático fosse um livro, eu diria que está repleto de traças. Em cada página, há uma frase quilométrica sem pontuação, que se desdiz por querer. Não há muita concordância e a regência verbal é sempre no contrário. Cada rodapé explica o que não deveria ser explicado e a capa virou contracapa. Portanto, meu senso prático quase inexiste, de tão pouco e de tão inexpressivo, tendendo sempre à subjetividade.

Sou amante da subjetividade. Para quê dizer as coisas sem suspense, sem rodeios? Cadê a graça? Para quê ir direto ao ponto, sem averiguar as causas, as ramificações, as medidas, as culpas? Nem quero saber do ponto quando preciso ir direto a ele.

Detesto obrigações que não me enriqueçam com o mínimo da subjetivação. Já vivo o dia a dia com uma carga estupenda de objetivos, de alvos, de direções. Escrevendo, eu acho, devo me abastecer do meu lado subjetivo, que é bem mais atraente. E quero ser fiel ao meu público-leitor que começou, a alguns meses, a me cobrar a volta do meu lado subjetivo.

Só para ilustrar o meu pouco senso prático e o meu farto lado divagador, cabe aqui um causo de criança, que me ocorreu quando eu tinha seis anos. Eu poderia ter começado esta crônica com ele, sendo objetiva, mas, de novo, não consegui.

Bom, a mini-saia era a sensação, nos idos de 82, 83, 84. A música que mais tocava nas AMs era aquela de Genival Lacerda, que fala na mini, que é uma peça de roupa que gosta de chamar a atenção dos marmanjos.

Lembro que ir à casa da minha avó paterna, no Alto Belo Horizonte, na Francisco Matias Rolim, era uma festa. Christiano e eu adorávamos. Pois numa destas ocasiões, aperreei minha mãe por uma mini-saia e satisfiz o meu desejo.

Era linda a roupa, bem azul e bem justa e resolvi usá-la pela primeira vez quando fui à casa de Vovó. Eu fiquei tão emocionada que não consegui andar direito, fazendo pose. De repente, fui ao banheiro. Lá, me vi numa situação constrangedora. Gritei: “Alguém me ajude a tirar a saia…”. Mariberte, esposa do meu tio Aluísio, gritou: “Menina, deixa de tu ser besta e levanta a saia…”. Desde então, comecei a perceber que sou inteligente, mas preciso aprender a ser prática. Mas, com ou sem emoção, valeu a pena a minha primeira mini-saia US Top. Só a danada da subjetividade para fazer eu dividir este fato com vocês agora.

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