Ah, bons e saudosos tempos! Quando o circo chegava à cidade, ela se transformava numa festa. Como na época ainda não havia a televisão, cujas novelas passaram a “prender” o povo em casa, a plateia dos noturnos espetáculos circenses era enorme e composta de crianças e adultos de todas as idades e classes sociais.
Até o Cine Éden via diminuir o número dos seus frequentadores.
Os circos iam chegando, e as noites se transformavam numa festa. Os mais modestos eram armados onde hoje se situa o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, nas proximidades da Rua do Emboque, quase que paralela à Rua Dr. Coelho Sobrinho. Em tempos mais remotos, ficavam lá pelas bandas das Capoeiras, em terreno que era gratuitamente disponibilizado por Seu Arcanjo e onde, posteriormente, foi construída a Casa do Idoso, graças ao beneplácito de João Claudino; já os circos mais imponentes – Nerino, Garcia e Bartollo – instalavam-se no campinho que havia em frente ao Grupo Escolar Mons. Milanês, e que servia de campo de futebol para os alunos do grupo e para o TG-243, cuja sede era ali instalada.
Hoje, o local é conhecido apenas como Xamegão. Mas aquele local já teve seu nome próprio.
A rua lateral era, como ainda o é hoje, chamada de Rua Líbio Brasileiro, mas poucos sabem que o espaço ocupado hoje pelo atual Xamegão já foi denominado de Praça 26 de Julho – data alusiva ao bombardeio do navio mercante brasileiro Tamandaré, em 1942, em plena II Guerra Mundial – cuja data ficou consagrada como Dia do Movimento 26 de Julho. E, desde 1955, passou a se chamar de Praça Dom Adauto, pela Lei nº. 132, sancionada pelo então Prefeito, Dr. Otacílio Jurema (gestões de 1951 a 1955, e 1959 a 1963). Como dito antes, poucos a conhecem com este nome.
Mas, voltando aos circos. Os espetáculos eram sempre noturnos, iniciando-se por volta das 20 h, mas, aos domingos, sempre havia três sessões: matinal, vespertina e noturna.
O rebuliço, porém, começava sempre por volta das 15 h, quando um palhaço, acompanhado do seu séquito infantil – chamado de “moleques de rua” –, a troco de um pirulito e de um carimbo posto no braço, que dava direito a entrada gratuita para um espéculo, desfilava pelas nossas principais artérias, convidando a população para os espetáculos. As pessoas corriam para as janelas para ver a troupe circense passar – às vezes, vinham até os amimais –, mas era prazeroso assistir à passagem do desfile, acompanhado de um miniconjunto musical e, bem à frente, com suas “pernas de pau”, o palhaço gritando:
– Hoje, tem espetáculo?
– Tem, sim, Senhor! – gritava, em coro, a molecada.
– Às oito horas da noite?
– Tem, sim, Senhor!
– E o palhaço o que é?
– É ladrão de mulher!…
– Então, arrocha, negrada!
– Uhuhuhuh!!!
Como eu gostaria de engrossar aquele bloco festivo. Menos pelo pirulito, e mais pelo carimbo de entrada. Mas, meus pais não permitiam:
– Nem ver! De jeito nenhum!…
– Mas, pai…
Serenados os ânimos, com voz suave, meu pai dizia:
– Vou ver se, no sábado, eu dou um jeito!…
Ah! como essa saudade e a ausência de entes e amigos queridos me machucam e doem!…