Festas Juninas

É óbvio que já não se fazem festas juninas como antigamente… E é inspirado por um sentimento de nostalgia que nasce a Coluna de hoje que se torna, assim, uma espécie de crônica de saudades. As festas juninas eram de uma simbologia ímpar. Carregavam uma aura de amizade e de vizinhança.

Não era à toa que adotávamos o costume dos compadres e das comadres de fogueira: “Santo Antônio disse / São Pedro confirmou / Que você fosse meu padrinho (minha madrinha) / Que São João mandou”. E assim se iniciava um compadrio que era respeitado para o “resto da vida”. Tanto é que padrinho (ou madrinha) de fogueira era pra valer. Sempre que os (as) encontrávamos, tínhamos que “pedir a bênção” (e não “dar a bênção”, como se dizia na época).

Hoje é bem diferente: por onde andam os costumes e as fogueiras em torno das quais crianças e adultos divertiam-se em soltar fogos, traques, mijões, peidos de “véia”, chuvinhas, vulcões e estrelinhas?… Já não se soltam mais os balões que encantavam a nossa infância, mas que não mais são aceitos pelo progresso. Na medida em que eles se foram sofisticando, passaram a provocar destruição. É o preço do progresso!

Como eram belas e inocentes as cantigas juninas: “Cai, cai, balão / Cai, cai, balão / Aqui na minha mão / Não cai, não / Não cai, não / Cai na rua do sabão”; ou essa outra: “Noite de junho / Céu estrelado / Balão subindo / Clareando a imensidão…”.

Enquanto isso, as fogueiras continuavam queimando defronte de nossas calçadas: “A fogueira tá queimando / Em homenagem a São João…”; ou essa outra: “Chegou a hora da fogueira / É noite de São João / O céu fica todo iluminado / Fica o céu todo estrelado / Pintadinho de balão”. Havia, então, as especulações das moças casadouras em busca dos seus futuros amados: “Olha pro céu, meu amor!…”;  ou essa: “Eu pedi em oração / Ao querido São João / Que me desse um matrimônio / Matrimônio? Isso é lá com Santo Antônio”; ou ainda “Capelinha de melão / É de São João / É de cravo / É de rosa / É de manjericão”. E tomem as adivinhações: faca na bananeira, rosto na bacia cheia d’água…

Mesmo sabendo que existe o direito do livre arbítrio e o das escolhas, não gosto dessas quadrilhas estilizadas e artificiais, e nem dos forrós plastificados e eletrônicos, embalados por puro mercantilismo. Apetecem-me mais os ritmos originais das marchinhas juninas e a simplicidade das quadrilhas improvisadas ao embalo de um bom puxador, aqueles do Balancê… Anavan tur (en avant tour – em bom francês)… Anarriê (en arrière)… As quadrilhas! Ah! As quadrilhas de outrora, com suas marcações… Eram mais naturais, mais encantadoras. Exatamente por isso é que ficaram gravadas na memória coletiva.

Há coisas e fatos de que não podemos nos esquecer… Assim é a vida! E, se assim escrevo, é porque o passado será sempre um presente para mim. Enfim, devolvam-me o meu São João!

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