Esperteza de Eduardo Cunha

Suas tiradas lembram as de Paulo Maluf, empresário paulista que se fez na política à sombra da ditadura. Prefeito biônico da capital e depois governador, escondeu-se no velho costume do “rouba mas faz”, popularizado por Ademar de Barros em São Paulo do meado do século XX. Um slogan do agrado dos paulistas. Tempos atrás, a imprensa divulgou documento da lavra de Maluf, comprometedor de sua probidade administrativa. De posse desse papel, um repórter da televisão apresentou-lhe cópia xerox e perguntou:

– O senhor reconhece esta assinatura?

– Eu não coloquei minha assinatura neste papel.

De fato, ele não assinara aquela cópia. A assinatura estava no original, é claro. O jornalista insistiu mais de uma vez. Maluf dava a mesma resposta, em voz forte e segura, sem mexer um músculo da face. Maluf não mentiu, foi matreiro e cínico.

Esse episódio me vem à memória, sempre que vejo e ouço Eduardo Cunha afirmar que tudo o que ele faz como presidente da Câmara é dentro da mais estrita legalidade, em obediência ao Regimento Interno etc. etc. Como Maluf, Cunha não fica corado, sequer pisca o olho. Nem quando garante nada ter a ver com o funcionamento do Conselho de Ética! Como se ele estivesse alheio ao palco, onde seus fiéis comandados, (entre eles os paraibanos Welington Roberto (PR) e Manuel Júnior (PMDB), executam táticas para retardar o início do processo de cassação do mandato dele. E, diga-se, sua tropa de choque atua com eficácia, ao ponto de a simples admissibilidade da representação encaminhada pelo PSOL somente logrou aprovação em clima de ameaça punitiva do Ministério Público Federal e da Justiça! E ainda corre o risco de ser anulada!

As primeiras observações acerca da personalidade e da conduta de Eduardo Cunha, eu as ouvi de Ciro Gomes em 2009. Num almoço de trabalho na Fundação João Mangabeira, em Brasília, boa parte da loquacidade de Ciro foi dedicada ao “desqualificado, canalha, ladrão” aplicados a Cunha, ao lado de outros adjetivos. Então filiado ao PSB, Ciro defendia a candidatura própria do seu partido, e espinafrava a coalizão PT/PMDB, espúria, como ainda hoje a qualifica. Eduardo Cunha entrava na história como integrante da banda corrupta do PMDB.

Até ali, eu pouco sabia de Eduardo Cunha.

E cheguei a imaginar ter Ciro Gomes alguma desavença pessoal com o deputado carioca. Engano meu. Agora que Cunha impôs-se ao proscênio, torna-se fácil avaliar. Reconheço, de passagem, que ele subiu no palco por mérito e esperteza. Certamente, mais por esperteza, ao derrotar dois fortes concorrentes na briga pela presidência da Câmara Federal: Arlindo Chinaglia (PT-SP), e Júlio Delgado (PSB-MG). Cunha seduziu a maioria dos parlamentares de segunda categoria, o chamado “baixo clero”, aquele núcleo “alimentado” pelas emendas parlamentares, usadas com frequência como fonte de propina na pequena corrupção fatiada, disseminada pelos estados de todas as regiões do Brasil. Para tanto, é estratégico ser amigo do presidente da Câmara. Daí a agressividade dos amigos de Eduardo Cunha, no Conselho de Ética da Câmara, como se mostram nossos dois citados conterrâneos.

O deputado Eduardo Cunha é muito esperto. Mas esperteza em excesso mata, dizem. Mata ou leva à prisão, aliás, uma forma trágica de morte política. Muita gente está prevendo seu encarceramento, inclusive o deputado Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), seu colega de partido. É só esperar o carnaval passar…

P S – Desejo a todos votos de Feliz Natal e um Ano Novo com motivos de alegria.

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