E janeiro falhou…

Espero que quando o leitor estiver lendo estas mal traçadas, já esteja chovendo copiosamente, mas minha perturbação é tanta, que me motiva a escrever novamente sobre esse tema.

Um dos melhores livros que foram publicados sobre Cajazeiras, sua história, e nosso sertão, foi “As Cajazeiras que Vi e Vivi” escrito por Antonio Costa Assis, seu Tota, que era amigo de meu pai (ele papai e Gineto são citados em Homens e Bichos de Otacílio Cartaxo –“…Tota num velocípede…”), e que continuou esta amizade por seus descendentes – Alexandre foi meu colega de colégio, e os  outros filhos, etc.

Seu Tota, nessa obra que todos deviam ler, ao par de descrever toda sua longa vida, também cita aspectos e os chamados ditos da sabedoria popular sertaneja, e uma coisa que ele escreveu que me marcou foi o dito, naturalmente ouvido por outros antes dele que: “JANEIRO TARDA MAS NÃO FALHA” em que afirmava que no mês de janeiro choveria nem que fosse no fim…

Eu, que como todo nordestino e sertanejo, vivo a ver e analisar nuvens para ver a possibilidade de chover, adotei essa frase como um mantra budista, sempre a repeti-La e esperar as chuvas de janeiro. E nesses trinta anos que aqui vivi, nunca janeiro faltou.

Então chegou 2000. Que havia um dito dos tempos do primário “Mil chegará, mas dois mil não chegará” – outra frase profética, mas de minhas amas carolas, e não do livro de Tota, e passamos 2000 e o fim do mundo não chegou, então pensávamos que as profecias sinistras (bug do milênio, etc..) tinham acabado, e comecei a achar que iríamos entrar de vez na era de Saturno, quando os romanos achavam que seria um final feliz para todos nós.

Então veio o apocalipse maia, aparentemente outro alarme falso, e assim eu sempre achava que as profecias sinistras eram coisa do passado… Mas não sei por que de lá para cá o clima veio mudando, as chuvas parando, o problema da Cantareira na “Terra da garoa” que a gente se chateava com aquela chuvinha interminável, e o reservatório secando, ai veio o que nunca esperei ver enquanto vivo, São Paulo abastecido por caminhão-pipa, quando vi pela primeira vez, nem acreditei, achei que tinha sido filmado no Nordeste. E por aqui, haja seca, seca e mais seca. Começo a achar que esse tal de apocalipse Maia, 2012 pode ter sido o começo, então a coisa se agravando ano após ano.

Restou o mantra que vi no livro de Seu Tota, que fiquei a repetir quase diariamente, esperando sua confirmação…  Agora, janeiro terminou, e salvo um chuvisco que nem vi direito, a chuva de janeiro faltou. Caindo por terra nossa secular sabedoria popular, pelo menos por enquanto.

Talvez o tal aquecimento global seja p’rá valer e as previsões nebulosas já estejam se concretizando, as barragens estão se esvaziando, seca após seca, o ano terminado em quatro (2014), negando:“Era de quatro nunca negou” – o ano passado foi uma seca verde, e nem tão verde assim, nossos mananciais do volume morto para o intangível, a transposição que nunca chega, e mesmo para mim, que sou calorento esse calor sufocante, absolutamente insuportável e o ano fluindo.

Restou a sabedoria popular, o mantra que aprendi lendo o livro de Seu Tota, que tantas vezes repeti esse ano, finalmente vi frustrado, e a gente na expectativa de chuva, como nunca eu experimentei antes.

Pois é até Janeiro faltou. Como eu gostaria de estar com Seu Tota Assis, papai e outros que já se foram, para darmos uma nova interpretação desse lapso da sabedoria popular. O livro já citado, em nada fica diminuído por essa falha de São Pedro.

Pois é, mais um mito se vai, os tempos podem estar mudando, mas vamos esperar pelo melhor. Toda regra tem exceção, espero que essa seja uma delas…

Fica o registro, e a recomendação de que mais se publiquem e se leiam os livros sobre nossa região, que tanto carece de escritos.

E continuamos a olhar para o céu e esperar a chuva redentora…

Dedica-se este ao meu amigo que gostava de profecias: Adalberto Nogueira. Melhoras…

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Publicações relacionadas
CLIQUE E LEIA

O povo wiaóke II

Na minha frente, o mundo se abria, vertiginoso, dizendo aos meus olhos que tudo é um mistério voador.…
Total
0
Share