Dona Carmelita: a pessoa mais importante de nossa cidade

Cajazeiras perdeu, há poucos dias, a maior educadora de nossa história desde os tempos de Padre Rolim, dona Carmelita Gonçalves. Sem tentar fazer paralelos entre as duas figuras, pois uma delas foi simplesmente o fundador de nossa cidade, sobre a outra eu tenho melhores informações, pois fui seu aluno.

E de um menino rebelde e egocêntrico, quando do término dos três anos em que fui seu aluno, terminei completamente alfabetizado, com a “tabuada decorada”, e de nota dez em comportamento. Ela com seus métodos, que hoje poderíamos considerar ultra-ortodoxos, me transformou de uma criança irresponsável, num aluno exemplar, a ponto de que quando saí daqui para o Rio de Janeiro, não tive qualquer dificuldade de me adaptar ao ensino super exigente das escolas da Cidade Maravilhosa, e continuei a ser um aluno dos melhores da classe até o vestibular, quando fui o segundo colocado na UFPe, no curso de Engenharia Mecânica.

Com Dona Carmelita se firmaram os alicerces de mina escolaridade, assim como o de muitas gerações que me sucederam. Ela pessoalmente era o paradigma do ensino fundamental que continuou a obra do Padre Mestre. E quando eu pensava que era o aluno especial, quando frequentava com ela as missas da Catedral, vinham outros alunos, a quem ela os conhecia da mesma forma que eu.

Na minha opinião, quem conseguiu se adaptar a seus métodos pedagógicos foi um bom aluno e no futuro terminou um bom profissional, pois ela não apenas ensinava, ela também, ao contrário dessas novas pedagogias, ensinava os alunos a obedecer, e quem aprende a obedecer, quando sair do ambiente escolar e entrar no mundo profissional, vai saber o seu lugar, pois ninguém entra num emprego para ser gerente imediatamente, começa em quase todos os casos sendo subalterno e sendo obrigado a obedecer ordens. Os novos métodos, que colocam os professores como orientadores ou facilitadores dos alunos, ou seja, como amiguinhos dos alunos não produzem alunos obedientes e esses encontrarão um ambiente no qual terão muita dificuldade de se adaptar, quando entrarem no mercado de trabalho. Essa é a maior deficiência do método de Piaget e Paulo Freire.

Assim, minha professora que se foi, aos 98 anos, vai fazer cada vez mais falta. Fui às lágrimas tanto no velório quanto no enterro, e não sei quando nossa Terra do Saber vai produzir outra Carmelita Gonçalves, que na base do puxão de orelha e das reguadas, conseguiu me transformar num cidadão, assim quanto muitos outros privilegiados que estudaram com ela.

Todas as homenagens são poucas para essa que se vai. Os prefeitos passam, os cargos púbicos passam, mas a obra de educar permanece com seus educandos e as novas gerações que forem educados por seus alunos.

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