Deste tamanhão

Escrevi uma carta para uma grande amiga, na semana passada, e me peguei pensando em como a espécie humana é egoísta, às vezes.

Estou lendo “Bilhões e Bilhões: reflexões sobre vida e morte na virada do milênio”, do maior astrônomo de todos os tempos, já falecido, o norte-americano Carl Sagan. Leio um exemplo e, de repente, aprendo um pouco sobre a Teoria da Relatividade; leio outro e me deparo com as leis newtonianas; lá na frente, descubro que um cálculo pode ser simples se eu encaixá-lo no meu cotidiano.

Carl Sagan sabe muito bem como tornar fácil e atraente uma teoria monstruosa que nos cercou de pavor durante os tempos de colégio. Mas, num determinado momento da carta, aconteceu de eu escrever assim: “Cláudia, sabia que dentro de Júpiter cabem mil Terras? E que uma simples craterazinha de Saturno é cinco vezes maior do que o nosso planeta? E pensar que, ao redor de uma estrela muito próxima de nós, a “Lalande 21185”, pode ser que haja um sistema planetário e, talvez, vida pulsando”.

Comecei, então, a me assustar com o tamanho das coisas que não conhecemos e, a partir disso, com o tamanho da nossa impaciência. Minha fé em Deus, no entanto, não deixa Carl Sagan se espalhar muito, nas suas célebres visões de cientista. O Big Bang, que explodiu e acabou nos originando, querido astrônomo, não deixou de existir, mas com a presença de algo maior, que comandou o processo.

Vida, para mim, não pode existir sem Deus. O existir, em si mesmo, é Deus. Mesmo com essa certeza, movida por uma fé que, infelizmente, não pode ser medida ou comparada, fico inquieta em relação às descobertas da Ciência. E, mesmo sabendo que a criação bíblica do mundo, no Gênesis, é descrita na Terra, não descarto a possibilidade de existir vida em outros lugares do espaço. Conservadores que me desculpem. A grandeza de Deus, eu espero, iluminará a Ciência, para que esta prove, com a sua razão, que vidas dependem de algo muito mais nobre e inexplicável.

Mas por que num universo com 15 bilhões de anos e mais outro tanto de extensão e mais outra porção que ainda não foi alcançada… Por que num lugar deste tamanhão só há vida por aqui? Somos egoístas mesmo. Por que o homem acha e continua achando que as suas últimas descobertas são o que há de mais inteligente, mais correto e mais desenvolvido? Acaso somos os mais inteligentes nesse universo, de tantos bilhões de extensão? Somos egoístas mesmo. Os dinossauros estiveram por aqui, felizes da vida, por cerca de seis milhões de anos e… ploft: sumiram. Isso margeia a minha curiosidade em pensar que sumiremos também. A cabeça frutífera e lógica do homem saberá quando viraremos churrasquinho? Não, não e não.

Gosto de falar em Galileu, nessas horas. Como ele sofreu, falando da redondez da Terra, de que esta se movia ao redor de si mesma e de que o Sol era o centro do Sistema. Foi condenado e forçosamente confessou a sua culpa. “Galileu é um endemoniado. Isso é coisa do cão!!! Você vai ser queimado, seu danado…”

Antes de morrer, ele ainda soltou a piada, que foi realmente considerada um insulto: “É, mas que se move, se move…”

Hoje, Galileu, onde você estiver, saiba que temos mais de 2 bilhões de planetas, cada um com sua órbita, alguns com seus satélites e sóis, sem contar com buracos-negros, corpos celestes, asteróides, estrelas e centros gravitacionais que ainda não foram totalmente estudados. Mas vida em outros recantos do mundo, ainda não se sabe. Não porque não exista, apenas porque não se sabe.

Não resisto em terminar, falando do filme “Gattaca: uma experiência genética”. O casal apaixonado está prestes a se separar por um ano. Numa festa de despedida, os dois dançam. Ele, um pouco assustado e emotivo, fala: “Meu amor, um ano é muito, muito tempo…”. Ela, racional e matemática, afirma: “Nem tanto, nem tanto. Apenas uma volta ao redor do Sol.”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Publicações relacionadas
Total
0
Share