Da felicidade na mesa de bar

Jampa. Pulsa o coração em doses cavalares de cevadas. Verão. Aqui acolá uma chuva passa a flanela no ar purificando a poeira das muitas edificações residenciais. O Brasil vibra: vou-me embora para João Pessoa. É lá onde o sol primeiro se espreguiça para abrir os olhos.

Botecos repletos dos que se convidam para celebrar a vida, a amizade, ou o nada. É um evento que ficará tatuado na alma até mesmo dos reclusos, dos tímidos, dos que querem calma, mas se contagiam com as ondas do mar, com o sol bronzeando a espinha dorsal de nossas almas.

Correr, nadar, andar no beiço da praia, sentir as águas salgadas do mar para adocicar sua pele, seu astral.

No espelhar dos raios marítimos nos refletimos em momento mágico: contemplamos nossos rostos como se fossemos narcisistas. Não no sentido de voltar-se para seu próprio umbigo, mas a alegria de ser, sentir os ecos de sua interioridade.

Uma das chamas a nos elevar a essa temperatura vital, a esse tempero de deixa a vida me levar, é a bebida. A cervejinha, o vinhozinho, o uisquezinho, a cachacinha, a caipirinha. Tudo no diminutivo como se expressava Vinicius de Moraes em seu mais alto grau de elevação espiritual.

Sabemos da surpresa na esquina da rua, do asfalto automotivo em velocidade, da pressa burocrática diária. Mas devemos desligar as turbinas do calendário cotidiano pelo menos um mês de férias e clamar: eu não sou um objeto bruto, eu não sou escravo da velocidade. Eu sou emoção. Ah, como é bom me devorar com fome de viver. O meu altar é a mesa do bar. Minhas orações são os papos, as conversas com amigos e parentes, ouvidas por todos os deuses em suas infinitas bondades, ouvidas por todas as crenças. Salvem os deuses da vida. Salvem os ébrios, as ressacas, os tira-gostos gordurosos, os porres, a boca ressequida clamante por H2O, água de côco, ou, acima de tudo, mais uma dose para rebater a dosagem exagerada que nos elevou ao cume daquele instante feliz que ficará registrado na foto do celular, na memória das rugas que nos aguardam.

Você deve estar pensando agora: e depois? Depois, no retorno para casa, a realidade dos carnês a serem pagos baterão nossas portas, os impostos habituais baterão em nossas contas bancárias. Sim, é verdade. A mesa do bar do presente não exige essas preocupações. O momento é outro. E, por favor, não estrague o meu texto. Pense apenas que estamos de férias, bebendo, celebrando momentos inesquecíveis.

Garçom, por favor, desce mais uma aqui para meu amigo que me lê!

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