Conviver com a discordância

Discordar é um ato que exige conhecimento de causa, mas também respeito ao interlocutor. Não transformar uma simples discussão num conflito que acabe em ofensas ou insultos. Discordar é divergir, ter opinião contrária. Mas é necessário que estejamos preparados para oferecer argumentos inteligentes na contestação. Assim enriquecemos o processo comunicativo e preservamos as relações pessoais. Jamais deixarmos ser levados pelo emocional.

No nosso dia-a-a-dia somos provocados muitas vezes a entrar em debates que podem terminar numa discussão estéril. Principalmente quando o assunto é política. O país vive um momento de polarização nesse aspecto, o que enseja posicionamentos radicais quanto às discordâncias. Muita gente entende que discordar é menosprezar a opinião do outro. Nem todo mundo tem a mente relaxada e aberta para participar de um debate acalorado. Muito mais quando não consegue ter argumentos convincentes, transformando o diálogo num momento de tensão.

Discordar sem ser desagradável é sinal de maturidade, sensatez. Nunca devemos passar a impressão de que “somos donos da verdade”, expressando postura de arrogância, superioridade no saber. Até porque nem sempre estamos com a razão. Por isso é preciso saber ouvir. Confiar nas nossas convicções, embora atentos ao que o outro tem a nos dizer. Buscar provar a nossa divergência, sem agredir ou ofender. Termos a sabedoria de defender nossa opinião, respeitando a liberdade que o outro tem para se colocar contrariamente ao que pensamos.

O que incomoda, realmente, numa discussão, não é a discordância, mas a falta de argumentos. O desacordo de opiniões resulta do fato de que somos todos diferentes uns dos outros, singulares. Por isso a necessidade de termos pleno conhecimento das teses ou conceitos que defendemos para não cairmos no ridículo de discutir sobre temas que não dominamos com lucidez. E assim partilharmos convivências harmoniosas. O bom senso nos pede ponderação.

Ideias distintas não devem construir inimizades. Saibamos identificar o limite entre a discordância e a falta de respeito. O ruim é quando nos apressamos em discordar, sem darmos oportunidade à nossa mente para compreender o ponto de vista que nos contradiga. Não vale a pena discordar por discordar, pelo simples desejo de ser o “sabe-tudo”. Afinal de contas nossas verdades são reavaliadas quando enfrentamos as divergências respeitosamente. Tentemos controlar nossas emoções quando estivermos participando de um debate em que nossa opinião não seja aceita pelo outro. Numa sociedade democrática o exercício da discordância é salutar.

Quando compreendemos que discordar é um direito, precisamos também entender que o respeito é um dever. Muitas ideias surgem na aceitação das divergências. Porém, tenhamos sempre em mente que o fato de admitirmos conhecer a discordância e refletir sobre ela, não representa dizer que, necessariamente, temos que aceitar o seu conteúdo. Nem devemos, igualmente, impor, a todo custo, o que achamos que é o correto. Afinal de contas somos todos indivíduos com mentes livres. Necessário se faz que façamos tudo isso com sabedoria.

Só os tiranos não conseguem aceitar o contraditório, porque procuram estabelecer como verdades absolutas os valores que defendem, na ânsia de fazerem justiça na conformidade de suas próprias vontades. E assim se afirmam intolerantes e intransigentes. Reflitamos sobre isso.

1 comentário
  1. Texto excelente.
    Eu sei que é errado, mas eu tenho dificuldades em aceitar o contraditório. Estou trabalhando em mim para melhorar.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Publicações relacionadas
CLIQUE E LEIA

Carta ao Haddad

Bom dia, Fernando. Desculpe a intimidade, mas aprendi, ao longo de uma belíssima jornada da campanha eleitoral, a…
Total
0
Share