Codinome Beija-flor

Cazuza compôs “Codinome beija-flor” em 1985, tendo como parceiros Reinaldo Arias e Ezequiel Neves. Indiscutivelmente uma das mais interessantes músicas do seu repertório, em razão da riqueza poética da letra, bem como da beleza da melodia. Fala do rompimento de um amor que era guardado em segredos. Há várias versões do que realmente Cazuza quis transmitir nos versos dessa canção. Não vou me deixar influenciar pelas interpretações outras que já conheci, vou procurar entendê-la na minha ótica de análise.

“Pra que mentir, fingir que perdoou/tentar ficar amigos sem rancor/a emoção acabou, que coincidência é o amor/a nossa música nunca mais tocou”.

CAZUZA

Percebe-se claramente que o rompimento se deu por um erro cometido pela pessoa amada. E esse erro é imperdoável, não permite falsidade, mentira, nem admite sua aceitação. A ruptura também não permite fingir que continuariam amigos sem qualquer ressentimento. Não há mais emoção a sustentar o amor que viveram até então. Quando diz que “a nossa música nunca mais tocou” quer dizer que nada que marcou o tempo em que estiveram juntos será revivido com alegria.

“Pra que usar de tanta educação/pra destilar terceiras intenções/ desperdiçando o meu mel devagarzinho, flor em flor/entre os meus inimigos, beija flor”.

CAZUZA

A partir daí ele já decide não citar o nome da pessoa amada, e lhe dá o codinome “beija flor”. A mágoa provocada pela forma como o relacionamento se findou, não condiz com uma postura de educação, de polidez, ou até de consideração. Dá a entender que o amor, agora como ele vê, não era verdadeiro, era pleno de “terceiras intenções”. Não havia sinceridade na retribuição do que ele oferecia de carinho. O beija flor é um pássaro que não tem preferência pela flor que vai sugar para se alimentar. Ele é um tanto promíscuo, sai sugando o néctar de toda e qualquer flor que encontrar. Assim ele classifica a pessoa de quem decidiu se afastar sentimentalmente. Será que insinuava uma traição, quando diz que sugava “entre os meus inimigos”?

“Eu protegi teu nome por amor/em um codinome, Beija flor/não responda nunca, meu amor/para qualquer um na rua, Beija flor”.

CAZUZA

Mesmo rompido resolveu proteger seu antigo amor, não declarando seu nome. Era, portanto, um amor secreto. E adverte que deva também guardar sigilo de tudo o que vivenciaram. “Não responda nunca para qualquer um na rua”. O que aconteceu deve continuar sendo de domínio exclusivamente dos dois.

“Que só eu que podia/dentro da sua orelha fria/dizer segredos de liquidificador”.

CAZUZA

Intimidades que só os dois conheciam. Confidências faladas ao ouvido, sussurradas, que só ele poderia dizer. “Segredos de liquidificador”, na minha interpretação, quer dizer segredos misturados de emoções, turbulentos, barulhentos, no sentido de que, se revelados causariam incômodos.

“Você sonhava acordada/um jeito de não sentir dor/prendia o choro e aguava o bom do amor”.

CAZUZA

Como era um amor simulado, falso, imaginou que a pessoa amada procurava um jeito de não sofrer com isso, quando disfarçava o choro. Esse comportamento então “aguava” o bom do amor, o que quer dizer que tirava a graça dos encontros a dois no gozo do prazer.

Do livro “CANÇÕES QUE FALAM POR NÓS”. 250 crônicas inspiradas em letras de músicas da MPB.

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