Cineclube Vladimir Carvalho em Cajazeiras

Fui ver aqui em Brasília no último dia trinta e um de janeiro o documentário de Maria Maia O Cinema Segundo Vladimir Carvalho, cineasta paraibano de Itabaiana. Traça um perfil desse profissional com trabalhos marcantes na cinematografia nacional, como, por exemplo, O País de São Saruê (1971), Rock Brasília (2011), O Engenho de Zé Lins (2007), O Homem de Areia (1982) sobre o escritor paraibano José Américo de Almeida e tantos outros.

Foi aplaudido de pé. Pode-se dizer que, aos 88 anos, respirou cinema a vida inteira. No documentário ele relata que desde criança assistia filmes. Seu pai o influenciou. Os filmes chegavam a Itabaiana através de trem. Quando ouvia o soar de apito do comboio chegando à cidade ele já ficava antenado imaginando qual seria o filme que veria.

Lembrei-me que foi no final dos anos setenta para início dos oitenta, acredito, que Cajazeiras teve o Cineclube Vladimir Carvalho. Seu primeiro presidente foi o jornalista Nonato Guedes. O famoso crítico de cinema Jean-Claude Bernadet esteve lá para ministrar um curso para seus participantes. Uma surpreendente ousadia daqueles jovens de então.

Um cineclube naquela época em Cajazeiras significava que havia um grupo de jovens se interessando pelo cinema com outro olhar. Com a visão de que cinema não era apenas diversão. Se tinha senso crítico, análise, debate sobre os diálogos e a elaboração do roteiro, sequências de cenas…. Ou seja, a interferência de seus mecanismos de criatividade em nossas vidas, na política do país, na inquietação em analisar e absorver para nossa perspectiva a estética da arte.

Antes da criação desse cineclube eu havia partido de Cajazeiras para Brasília, mas meus amigos que lá ficaram incorporaram essa experiência. Não sei como se conseguia filmes que estavam fora do circuito comercial: Filmes cult, alternativos, descolados artisticamente. Para aquela geração de espirito irrequieto, mesmo em momento histórico sobre as barras de coturnos brutais da milicada, tudo era possível. Afinal, ousadia é tempero da juventude. O cinema foi marcante para a formação cultural daquelas gerações de Cajazeiras. Principalmente o norte-americano e o italiano.

No entanto a fase dos filmes de O Gordo e o Magro, Mazzaropi, bang bang, faroeste, karatê, pornochanchada vistos no Cine Pax, Cine Éden e Cine Apolo XI – o cinema de Eutrópio é de uma fase um pouco anterior – que minha geração viu, foi fundamental para despertar nossas fantasias, compor nossas histórias de vida. Esses estilos compuseram nossa admiração e o encanto pelo mundo da sétima arte com a visão da infância e da adolescência. Diria que são cenas inesquecíveis de nossas existências. Quem foi garoto/a interiorano entende perfeitamente esse universo.

Não caio na tentação de querer comparar o cenário dos filmes daquela época, dos cinemas de rua com os de shopping de hoje em dia, pois o mundo segue em frente como nossas vidas. A vida não é estática. Nós é que temos que tentar aperfeiçoá-la e vivenciá-la da melhor forma possível. É a realidade. Mas que foi legal aquela fase, ah, isso foi.

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