Chico Araújo: o titular moral

No último domingo, recebi, assim como toda a nossa comunidade recebeu, com pesar, a triste notícia de que um dos mais proeminentes membros de nossa região, com pouco mais de 70 anos de idade, foi chamado para a morada eterna, ou seja, cumpriu sua missão aqui entre nós.

Não vão esperar de minha parte nada de algum comentário isento sobre esse ser extraordinário que nos deixa, pois desde que aqui cheguei em 1981, recém-formado e recém-casado, iniciamos uma amizade que perdurou até seu falecimento, e se existir vida após a morte, ela há de continuar.

É muito difícil enumerar os méritos de Chico Araújo nesse exíguo espaço, mas vou fazer uma tentativa. Ele era uma pessoa que sempre estava do seu lado, quer lhe ajudando, e na impossibilidade disso, prestando sua solidariedade, até nas vezes em que a gente errava, vinha ele para tentar ajeitar as coisas. Tinha e sobravam méritos para morara na capital, mas sempre escolheu viver entre nós. Assim que eu cheguei, apesar de ser sócio de nossa empresa familiar, eu era assíduo frequentador do escritório que ele mantinha com seu eterno sócio Joaquim Alencar, na Praça Coração de Jesus, posteriormente mudado para a Rua Maria Cavalcante de Alencar, por trás do Fórum. Após o expediente, nós costumávamos jogar vôlei numa quadra meio improvisada no quintal da casa de Joaquim. E para lá iam ä “nata” de nossa sociedade durante os anos oitenta. E nos finais de semana, nos reuníamos ao redor da piscina da casa de Dr. Luiz Xavier de Andrade, para refrescarmos o corpo e a mente, e Chico Araújo era uma presença constante. Demorou aproximadamente uma década, mas foi um período dos mais satisfatórios em que já vivi, na companhia desse cidadão que acabou de nos deixar.

Nunca nos afastamos completamente, e ele sempre me teve em alta conta, quando cansados da mesmice da política polarizada por Epitácio e Vituriano, resolvemos formar um partido que pudesse servir como “fiel da balança”, e a seu convite sou um dos únicos membros fundadores do PDT de Cajazeiras, “o doze” que posteriormente foi o partido que lançou seu sobrinho Carlos Antônio rumo à campanha mais bem sucedida para dirigir nossa administração municipal. Epitácio, raposa velha na nossa política municipal, não teve condições de “puxar o tapete” de Carlos Antônio, pois o mesmo estava com os pés bem firmes num partido controlado por gente de sua confiança (nós). E por trás de tudo isso, havia a figura que ninguém podia criticar, seu tio Chico Araújo. Quando do primeiro arrastão do bairro dos Remédios para a sede do partido, haviam apenas 27 carros, foi dele o estímulo: “Vamos assim mesmo”, e lá chegamos com quase o dobro disso, e a campanha cresceu exponencialmente.

No curto período em que assumiu a Defensoria Pública do Estado, seu órgão funcionava como uma espécie de consulado de Cajazeiras na nossa Capital. Quando uma vez eu tive que resolver alguns negócios em João Pessoa, fiquei no apartamento de um primo que o que iriamos resolver ficou para a parte da tarde, então ele quis voltar para onde morava depois do Bessa. Então, eu falei, para quê? a gente temos onde ficar por aqui, e ficamos a tarde toda, até fim da tarde na Defensoria com Chico Araújo mandando resolver nossos assuntos.  Mesmo longe, me sentia em Cajazeiras pela presença calorosa desse grande homem que resolveu ser nosso conterrâneo.

Poderia encher muitas laudas de histórias semelhantes, mas os outros tem que dar seu testemunho, acerca da grandiosidade desse que nos deixa, que não poderia ser considerado uma reserva moral, Chico Araújo nunca sentou no banco de reservas, sempre foi um titular!!!

Vá em paz para seu merecido repouso, grande guerreiro, que por aqui ficamos sentindo sua falta e cuidando para que você não seja esquecido. Você foi um Grande exemplo para todos nós.

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