Bolero

…E quem sabe sua voz se enroscando na ventania, não pudéssemos, nós dois e algum início de chuva, voar calados, quietos, repousantes. Quem sabe a nossa dor se transformasse em úmidos planetas de resposta, de delírio ou de estado de proclamação, de grito de independência, dependência ou morte.

E se pudéssemos comer vida ao invés de boi, gente ou damas? Quem sabe. Quem sabe ao redor de nós, além de uma fumaça encortinada e incansável, estivesse o ar limpo, seco e rarefeito nas pontas? Pois se amanhecêssemos tristonhos (absurdos seres com patéticas manifestações de uma intenção fria) morreríamos tão cedo, aceitando caminhos.

Quem sabe se eu comemorasse a sorte, em cada vez que ela me beijou e em cada minuto com cerejas ou escândalos me beija com força de gás. Quem sabe o equilíbrio duvidoso das estrelas. Mesmo se as estrelas fossem manto ou, quem sabe um lírio, uma espátula de melado ou um poro respirando imagens de dias feriados.

Quem sabe ver nossa esfinge em murais de oceanos ionizados pela população de cavalos-marinhos daquele edifício. Ou daquele outro, nos corais, acusado de espionar, xeretar, atucaiar e bisbilhotar as moribundas senhoras que esperam o cantar da soda limonada. Perdão. Do desafio.

Em histórias em quadrinhos, quem sabe, seqüenciaremos uma dor qualquer, nos animaremos em progressão de significados, nos continuaremos em personagens ou em nós mesmos.

Quem sabe, numa parabólica de equipes em campeonatos de rua ou de intimidades, possamos disputar, distribuídos em técnicas, pontos, dribles, cidadãos. Quem sabe, numa simples criança nos olhando por todos os olhos de aviões que ela pode nos doar, possamos amenizar nossas flores obcecadas por crescimento. Seríamos tão suaves quanto uma explosão mineral no centro da Terra.

Se você pensa que são dois pra lá e dois pra cá, está enganado, pois bolero se dança com o avesso ou com a terça parte de um ar noturno. Quem sabe, se colhêssemos algumas asas de formigas, assustaríamos, ao menos, a luz da lâmpada ou, quem sabe, a luz solar. A diferença está no ritmo, meu bem.

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